Feliz Natal: portar a Esperança do Cristo e a responsabilidade social

24 de Dec / 2022 às 23h00 | Espaço do Leitor

Passei boa parte de minha vida sem saber o que é uma ceia de Natal. Paupérrimos que éramos, minha mãe sozinha e eu criança, não soubemos desse prazer.

Vivi mesmo dias e noites de intensa solidão e de absurda espera por um pedaço de pão.

Assim foi minha infância, sem saber o porquê de o Espírito de Natal não me seduzir, nem o porquê de Papai  Noel não nos visitar. Apesar desse sentimento abismal (ou desse não-sentimento), compreendia, pela educação cristã, que era um tempo de esperança e de sossego das almas.

Apesar de nunca ter recebido presentes de Natal, apesar de nunca ter adornado uma árvore de Natal, apesar de nunca ter podido comprar os acepipes da ceia de Natal, apesar dessas lacunas natalinas, nunca faltou-me o abraço, o colo, o cheiro, o amor de minha mãe, dona Mocinha, o arrimo de minha vida durante o tempo em que esteve viva. Também não me faltou a resignação cristã, a aceitação de um destino de sofrimento inspirada na vida do próprio Cristo, da manjedoura à cruz.

Quando dos meus 16 anos, depois de alguns encontros vocacionais na Ordem dos Irmãos Maristas em Lagoa Seca, na Paraíba, resolvi atender a um chamado silencioso para uma vida reclusa no convento, mas aberta para o mundo, a partir da atividade de professor e educador, lidas abraçadas pela Ordem. Fui um bom aluno nas escolas por onde passei. Estudando pouco, mas atingindo boas notas por conta de um pouco de percepção e entendimento de como funcionava o sistema educacional da época. 

Foi nos Maristas onde vivi as primeiras noites de Natal, com direito a árvores, presentes e ceias. Os Maristas me proporcionaram a vivência da fartura e a responsabilidade social, bem como a inquietação espiritual. Desde esse tempo, vivendo na Fraternidade Marista de Propriá, no Sergipe, compreendi que o Natal dos pobres é tão somente a possibilidade de ter o que comer, ter onde morar, portar a Esperança do Cristo. Esse Cristo é a Síntese Cósmica do Bem, é o sincrético Amor materializado em alimento, abrigo e segurança. Esse é o meu Natal. É o que vos desejo.

Professor doutor em Ciência da Literatura-Aderaldo Luciano

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