Análise sobre aumento de casos de monkeypox aponta para falta de medidas coordenadas de controle, diz pesquisa

06 de Sep / 2022 às 22h00 | Variadas

O número de novos casos da doença do vírus monkeypox vem aumentando 40% a cada semana nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, chegando a 80% de crescimento em Goiás e no Distrito Federal. O número é estimado num estudo preliminar da Rede Análise, com participação da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, que usou dados oficiais atualizados até 22 de agosto, quando o Brasil apresentava 3.896 casos totais notificados, o primeiro deles em 9 de junho. 

A pesquisa sugere que o crescimento do número de casos está associado à falta de controle sobre a transmissão da doença. Por essa razão, os pesquisadores recomendam a realização coordenada e massiva de testes, além do rastreamento de contatos e isolamento de casos confirmados. A pesquisa é descrita em preprint, versão prévia de artigo científico, ainda não revisado nem avaliado por outros cientistas, publicado no site medXriv.

“Monkeypox é uma infecção viral zoonótica, ou seja, que pode se espalhar de animais para seres humanos e também entre humanos. No entanto, a grande maioria dos casos parece ser transmitida por contato direto com as lesões na pele”, relata ao Jornal da USP o professor Fredi Alexander Diaz-Quijano, da FSP, um dos responsáveis pela pesquisa. “O vírus pode causar uma série de sinais, algumas pessoas apresentam sintomas leves, outras podem desenvolver doenças mais graves, sendo grupos de risco para complicações as grávidas, crianças e pessoas com o sistema imunológico comprometido.”

O professor aponta que os sintomas mais comuns da monkeypox incluem febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, enfraquecimento, linfonodos inchados, seguidos ou acompanhados por uma erupção na pele, que pode durar de duas a três semanas. “A erupção pode afetar o rosto, palmas das mãos, solas dos pés, virilhas, regiões genitais ou anais”, observa. “O número de feridas pode variar de um a vários milhares.”

“A monkeypox vem se espalhando rapidamente pelo Brasil”, afirma o pesquisador Isaac Schrarstzhaupt, bolsista do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (Icepi), no Espírito Santo, e coordenador do Grupo de Modelagem de Dados da Rede Análise, primeiro autor do artigo. “Desta forma, nosso trabalho buscou estimar, de maneira preliminar, esse crescimento.” Até 22 de agosto, os Estados com mais casos eram São Paulo (2.528), Rio de Janeiro (445), Distrito Federal e Goiás (316) e Minas Gerais (206).

CRESCIMENTO SEMANAL: “Calculamos o porcentual de crescimento da incidência semanal em cada Estado com mais de 110 casos notificados por meio de métodos estatísticos, e o número reprodutivo efetivo (Rt) da doença usando intervalo serial de um estudo do Reino Unido, pois não temos este dado ainda no Brasil. Os casos são contabilizados a partir da notificação e não do início dos sintomas”, relata o pesquisador. “O intervalo serial é o tempo que os sintomas da doença se manifestam após a transmissão, medido em dias. O Rt é a média de pessoas contaminadas por cada pessoa infectada, e quando esse número é maior que 1, indica que a doença está crescendo, isto é, o número de novos casos está aumentando.”

A pesquisa aponta que São Paulo, Rio e Minas tiveram crescimentos semanais em torno de 40%, e Goiás e Distrito Federal em torno de 80%. “Os Rts ficaram acima de 1 em todas as estimativas, o que indica um crescimento sustentado da doença”, destaca Schrarstzhaupt. Quijano acrescenta que, embora tenha sido usado um intervalo serial de outra população, foi realizada uma análise de sensibilidade, a qual apontou que mesmo mudando bastante esse parâmetro, o Rt ainda estaria acima de 1 nas comunidades estudadas. “Isso sugere que há ainda falta de controle da transmissão”, enfatiza.

Os autores do trabalho mostram que, devido ao crescimento da doença, é recomendada a adoção de medidas de saúde pública como testagem, rastreamento de contatos e também isolamento dos casos confirmados. “Também recomendamos a vacinação. Apesar de não termos vacina específica para a monkeypox, a imunização contra a varíola poderia atuar como um complemento”, afirma Schrarstzhaupt.

“O estudo é considerado preliminar porque a inclusão de mais dados poderia levar a análises complementares. Além disso, a investigação se refere apenas aos primeiros dois meses da epidemia”, comenta o professor Quijano. “No entanto, o trabalho mostra que durante os primeiros dois meses houve uma tendência ao crescimento no número de casos que apenas pode ser explicada por falta de controle da transmissibilidade.”

MOMENTO DE AGRIR: Na avaliação de Leonardo Bastos, epidemiologista da Fiocruz que não participou deste estudo, os autores propõem um manuscrito importante para entender o estado atual da dinâmica da monkeypox em algumas regiões do País usando, com sucesso, dados de casos agregados e divulgados pelo Ministério da Saúde. “São apresentadas estimativas de incidência e do número efetivo Rt para quatro localidades (SP, RJ, MG e GO/DF), e todas apresentam um claro comportamento de crescimento de casos”, destaca.

Para ele, os resultados reforçam que esse é o momento para agir a fim de reduzir a transmissão e a velocidade de crescimento de novos casos. “Algumas ações sugeridas são aumento de testagem, rastreio de contatos, isolamento de casos confirmados e vacinação. Eu acrescentaria também uma comunicação eficiente do governo para a população geral visando a reduzir todo tipo de preconceito associado à doença e também ajudando na redução da transmissão através do conhecimento, isto é, ensinando as pessoas de forma didática sobre o processo de transmissão e como evitá-la. Algo que deveria ter sido feito com a covid nos primeiros meses de 2020.”

 

Jornal da USP Foto Ilustrativa

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