Projeto Corredor Caipira indica melhores técnicas para reflorestar propriedades rurais

14 de Aug / 2022 às 08h00 | Variadas

Há um esforço global para ampliar a escala da restauração florestal no planeta, visando reduzir os efeitos das mudanças climáticas e contribuir com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU.

Nesse cenário, o projeto Corredor Caipira, realizado pelo Núcleo de Cultura e Extensão em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), tem como um dos seus objetivos estimular a restauração florestal numa área que inclui os territórios dos municípios paulistas de Piracicaba, Anhembi, Santa Maria da Serra, São Pedro e Águas de São Pedro. 

Uma característica comum a esses municípios é o déficit de florestas nativas e de outras formas de vegetação natural nas suas paisagens e, como consequência, vários desses municípios e outros da região apresentam problemas de escassez de recursos hídricos, inclusive para a finalidade mais básica, que é o abastecimento da população. 

A partir do trabalho de reflorestamento realizado pelo Corredor Caipira, o engenheiro florestal e consultor do projeto Girlei Costa da Cunha, mestre em Ciências Florestais pela Esalq, elaborou um guia prático de restauração florestal destinado a quem tem uma propriedade rural e gostaria de reflorestá-la. O guia permite conferir os tipos de restauração existentes e descobrir qual é a mais indicada de acordo com as condições ambientais do local. As orientações também consideram a importância da biodiversidade em uma paisagem, além do valor de envolver as pessoas no processo de reflorestamento. 

“A gente procura mostrar que a restauração florestal não se resume a plantar árvores. Esse plantio de árvores normalmente se faz pra dar um start, que é só o começo do processo de regeneração natural que se dará pela proximidade com outros fragmentos de floresta, pela ação de animais, do vento… Tendo essa área que os receba, eles trazem sementes de outros locais e esse material coloniza essas áreas que estão em processo de restauração. Então, o principal processo de restauração florestal é a própria natureza”, explica Cunha. 

Embora a legislação brasileira preveja a existência de áreas dedicadas à conservação ambiental nos imóveis rurais de todo o país, tais como as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL), essas áreas, em sua maioria, não apresentam a vegetação nativa que deveriam conter para realizar os serviços ecossistêmicos a que se destinam. 

NATUREZA: Na região de abrangência do Corredor Caipira, a flora apresenta uma grande diversidade de espécies, tanto da Mata Atlântica como do Cerrado mas também com várias formas de vida, incluindo árvores, arbustos, subarbustos, ervas e plantas epífitas, como as bromélias e orquídeas. Por isso, os pesquisadores explicam que quando se fala em restauração florestal não se está falando apenas de árvores, mas as espécies arbóreas representam apenas uma parcela da biodiversidade da flora regional.

Partindo dessa ideia, de que a vegetação de uma floresta não se restringe apenas às árvores, mas sim a um conjunto maior de formas de vida, o assunto restauração florestal começa a ficar mais complexo, pois trata de centenas (ou milhares) de espécies, de biomas diferentes e de exigências ambientais distintas.

“A restauração só pode ser alcançada com a efetiva participação da natureza, quer seja através dos animais que realizam a polinização das flores e dispersão das sementes, como do vento que também é essencial para a dispersão de sementes de várias espécies da região, assim como a água e os peixes que também atuam como agentes de dispersão para algumas espécies”, orienta.

Mas se é tão complexo assim, é possível fazer restauração florestal? O consultor diz que sim, mas é preciso ter um olhar para a paisagem (conjunto de todos os principais usos da terra em uma região) e para os interesses das pessoas e comunidades que estão nessa paisagem. “Ela extrapola o plantio de árvores para ser uma atividade que visa (re)conectar as pessoas com o meio ambiente e com os seus modos de vida”, explica.

Jornal da USP Foto Ilustrativa

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