Artigo – Mundo político: Realidade e Fantasia

14 de Nov / 2021 às 23h00 | Espaço do Leitor

Primeiro-Ministro Holandês e o Primeiro-Ministro Inglês indo ao trabalho de bicicleta

Sempre que se aproxima um novo pleito eleitoral, principalmente com a relevância do que se realizará em 2022, são muitas as preocupações pontuais que passam a atormentar o nosso eleitor. Decidir pelos destinos do país e defender a integridade de suas instituições é uma missão de grande responsabilidade, e uma oportunidade ímpar de valorização do sistema democrático.

O problema ganha maior dimensão quando é grave a escassez de concorrentes confiáveis e com o perfil adequado, como na atualidade. É algo difícil de encontrar, mas não impossível.

Qualquer país relativamente jovem como o nosso, e que pretenda estabelecer as regras e normas básicas para o seu desenvolvimento cultural e político, tem a obrigação de buscar no mundo os bons exemplos de outras nações com séculos e mais séculos de história, a fim de que nas mais simples atitudes comportamentais sejam sedimentados os bons princípios, desde cedo. Em outras palavras, devemos aprender com quem pode ser exemplo e tem o melhor para ensinar.

Assim, aquilo que começou errado fica mais difícil de alcançar a recuperação. É inquestionável que a família representa o mais extraordinário e inquebrantável patrimônio da sociedade, cuja estrutura dá sustentação e sentido à nossa própria existência. Se nos desvios dos costumes e hábitos educacionais uma família enfrenta enormes obstáculos para encontrar novos caminhos, muito mais difícil é reformular a cultura de toda uma sociedade. Diante dos desequilíbrios socioculturais, ela é vulnerável a agressivas consequências, com reflexos a todos que vivenciam essas situações sem precedentes.

É triste reconhecer que a estrutura da nossa administração pública nem sempre é montada tendo como prioridade a funcionalidade e gestão racional em prol do bem-estar da população. Num país de terceiro mundo e com tantas carências básicas, surpreende que todos aqueles que assumem o comando nos escalões mais avançados da vida pública, políticos ou não, sejam tão pródigos em se assoberbarem das vantagens do cargo, enquanto tantos brasileiros passam dificuldades, até para a própria subsistência... Em outras palavras, passam fome deliberada e assustadoramente.

Até algum tempo atrás, deputados e Senadores recebiam 13º., 14º. e 15º. salários. Mesmo assim, ainda hoje recebem um volume de vantagens que choca a qualquer cidadão: auxílio moradia em Brasília, cota telefônica, cota postal, veículo, combustível, gráfica, jornais e revistas, passagens aéreas para os seus Estados de origem, verba indenizatória para uso nos gastos de combustível, alimentação e moradia nos seus Estados, e pode contratar até 25 Assessores parlamentares para os seus gabinetes... E é aí que funcionam as deploráveis “rachadinhas”! 

Depois de desfiar todo esse complicado novelo de excessos, de cuja realidade pouca gente tem conhecimento, permita-me o leitor mencionar alguns inusitados exemplos externos, para que se conclua que nós, no Brasil, estamos vivendo num mundo totalmente irreal e fantasioso: a) Em Londres o Prefeito não tem veículo oficial e vai à Prefeitura de bicicleta, assim como o 1º. Ministro Boris Johnson; os vereadores recebem Vale Transporte para uso em coletivos; b) Na Holanda, o Primeiro-Ministro e o líder Parlamentar também vão ao trabalho de bicicleta ou usam trens, ônibus ou metrô; c) Na Suécia, os vereadores e deputados regionais (estaduais) não recebem salários; o prefeito da Capital anda de ônibus e o Primeiro-Ministro circula de metrô ou de bicicleta; um Deputado Federal ganha apenas 50% a mais do que recebe um professor da rede primária de ensino; 

Com exemplos dignificantes como esses, conclui-se que o Brasil tem solução desde que mude a mentalidade vigente e que os nossos nobres governantes e “reizinhos” desçam do trono para se identificarem um pouco com a plebe aqui embaixo, que trabalha e produz na base da sociedade brasileira. Fazendo isso, eles tomarão uma “Chuva de Honestidade” - como diz o compositor nordestino Flávio Leandro -, e, quem sabe, após se reciclarem, encontrem o caminho da prudência e da vergonha!

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).

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