‘Tirar Bolsonaro para colocar Mourão é trocar 6 por meia dúzia’, diz Renan Calheiros

23 de Jan / 2021 às 18h00 | Política

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) participou de mais uma live da IstoÉ na tarde da sexta-feira, 22. Na conversa com a editora da revista em Brasília, Iara Lemos, o parlamentar fez uma análise do cenário político brasileiro – como a questão do impeachment do presidente da República -, avaliou as eleições para as mesas diretoras da Câmara e Senado e criticou o atual recesso parlamentar no Congresso Nacional.

O senador alagoano analisou ainda a operação Lava Jato e comentou sobre uma possível criminalização da política como estratégia de grupos da Justiça para eleger Bolsonaro. Sobre o impedimento do presidente, o senador disparou: “Tirar Bolsonaro para colocar Mourão, do ponto de vista democrático, não agrega nada”.

Político experiente, com mais de quatro décadas na vida pública, ele está em seu quarto mandato consecutivo de senador e já foi ministro da Justiça, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Calheiros entende que o Congresso Nacional falha ao estabelecer um recesso parlamentar neste momento de crise política, econômica e sanitária. “Ao não deliberar, o Congresso, em recesso parlamentar, criou um vácuo muito grande. O que é muito ruim e não colabora em nada com o país. Não temos o orçamento, não temos vacina, não temos auxílio emergencial, não temos uma agenda econômica. E temos a maior taxa circunstancial de desemprego, as empresas continuam quebrando, o capital internacional foi embora e o Congresso em recesso”, critica.

Ainda sobre o parlamento, o senador comentou a eleição para a presidência das duas casas, marcada para o início de fevereiro. “Acho que nesse momento, de crise política e sanitária, ter tanto na Câmara como no Senado comandos aliados à Presidência da República é algo muito ruim. Por isso, apoio a Simone Tebet para que possamos garantir a independência, a separação dos poderes e a própria renovação.”

No Senado, quatro parlamentares disputam a cadeira do presidente Davi Alcolumbre (Democratas-AP) para os próximos dois anos. Anunciaram as candidaturas Simone Tebet (MDB-MS), o governista Rodrigo Pacheco (DEM-MG), Major Olimpio (PSL-SP) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO). Novas candidaturas podem ser apresentadas até o dia da eleição.

Único senador da República que ininterruptamente se elegeu quatro vezes, Renan lembra os momentos tumultuados do último pleito na Casa legislativa – ele foi candidato à presidência. “Foi uma eleição traumática, com muitas barreiras, preconceitos e dificuldades. Nós tivemos até o engajamento do próprio Ministério Público Federal na defesa, junto ao Supremo Tribunal Federal, com relação ao voto aberto, o que significa dizer que foi uma coisa atípica”, disse.

Quando o tema da conversa foi o afastamento do presidente Bolsonaro, Renan avalia que o impeachment terá dificuldade para caminhar no legislativo. “Primeiro, pelo fisiologismo dos parlamentares; em segundo, a nomeação de Mourão. Na prática, seria trocar seis por meia dúzia.”

Depois de dois anos “sumido” do jogo político, Renan que, assim que o Senado voltar ao normal, resgatará o protagonismo no papel de oposicionista, contestando a atual política externa brasileira. “Esse acordo bilateral do Brasil com os Estados Unidos e a maneira como isso foi priorizado, em detrimento dos outros parceiros, tem prejudicado muito nosso país.”

O senador fez duras críticas à Operação Lava Jato. Ele diz que está comprovado que aconteceu uma articulação político-partidária, com engajamento do Ministério Público Federal, numa parceria que envolveu setores da Imprensa, para impedir o presidente Lula de participar da última eleição.

“A Lava Jato é importante. De alguma forma ou de outra, produziu avanços civilizatórios. Mas, do outro lado, ela teve um toque político-partidário com objetivo de prejudicar determinadas pessoas. Se não houvesse a operação Lava Jato, o cenário político brasileiro seria outro”, afirma.

“Nunca deixarei de reconhecer os atos de Bolsonaro, no sentido da desmobilização do estado policial, do abuso de autoridade, que teve na Lava Jato seu grande momento. Ele, neste sentido, é coerente na defesa dessa desestruturação desse estado policialesco que ainda existe, mas que existiu ainda com mais força”, conclui.

Fonte: Revista Isto É

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