Psicóloga fala sobre a importância de cultivar o otimismo para a saúde mental

31 de Dec / 2020 às 12h00 | Variadas

Fé. A palavra se multiplicou ao longo do trágico 2020, o ano da pandemia que matou, em todo o mundo, milhões de pessoas em decorrência de uma doença nova, a Covid-19. As duas letras com o acento agudo na última viraram, até, uma marca.

Você já deve ter visto por aí, em tatuagens, camisas, bonés, panfletos. Uma inscrição que lembra um manuscrito em formato de cruz, um dos símbolos do cristianismo. Mas o substantivo, que nos foi trazido pelo latim (“fide”), atravessou os séculos, difundindo um significado que vai além de qualquer religião específica.

A fé é um sentimento ligado não só ao verbo “acreditar” como ao ato de confiar. “Boa-fé” é agir de maneira transparente, confiável. “Fé pública” é a acreditação conferida a um profissional encarregado por um serviço de Estado. E assim por diante.

Não é à toa que a palavra ganhe um sentido especial no fim de um ano difícil, incentivando as pessoas a olharem com esperança para o ciclo novo que se abre à meia-noite.

Como manter, então, uma perspectiva otimista após um período de perdas e prejuízos? Não há uma receita pronta para todo mundo, mas, de acordo com a psicóloga clínica Nazilda Coelho, trabalhar o olhar diante das situações pode ajudar bastante, sem perder de vista as oportunidades.

“A forma como a gente olha aquela perda”, diz a terapeuta. “Eu posso transformá-la em algo negativo ou positivo no sentido de que isso pode me dar forças. Ressignificar e criar a partir daquilo. Foi um ano de perdas de pessoas queridas e de empregos, mas também um ano de muita ressignificação. A própria profissão do professor se reinventou, por exemplo. Nunca vimos tantos cursos on-line”.

Um problema recorrente da saúde mental ao longo destes meses de isolamento e distanciamento social foi o agravamento de quadros de depressão e ansiedade. Nesses casos, cultivar o otimismo é uma das atitudes que contribuem para melhorar a sensação de bem-estar.

“Sabemos que a sequência é: ‘pensamento, sentimento e comportamento’. Então, se alimentamos o pensamento negativo, teremos, na sequência, sentimentos negativos que ativarão os medos. Quando cultivamos o verdadeiro otimismo, não o negacionismo, a sequência é ter bons sentimentos e comportamento de abertura para o novo”, observa a psicóloga Nazilda Coelho.

Diante do aumento no número de casos de Covid-19, em meio à expectativa pela chegada da vacina contra a doença, as tradicionais festas de final de ano terão que passar por adaptações. Sem aglomerações e fogos de artifício, a virada de 2021 não terá o mesmo brilho das anteriores. Uma diferença que será sentida pelo professor de português Pedro Santos, 27 anos.

Desde 2015, ele costuma esperar a chegada do ano novo na orla de Boa Viagem com a família completa: pais, tias e primas. Depois, seguia para eventos pagos como os da Golarrolê e do Parador.

Hoje, vai ficar apenas com o namorado e dois vizinhos na casa onde mora, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes. E não vai poder ver a mãe, diagnosticada com Covid, sem sintomas graves.

“Vai fazer falta, já tinha virado uma tradição”, conta, desejando, para o futuro, saúde e perseverança. “Muita gente vai ter que se adaptar a esses novos normais, porque alguns hábitos implantados na pandemia vão ficar por um bom tempo ainda”.

Cuidado é palavra de ordem neste réveillon e, para quem for receber visitas, é preciso seguir as recomendações científicas com atenção. Antes do Natal, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicou uma cartilha (veja infográfico acima). O documento completo pode ser consultado no site da instituição.

Entre as orientações, está manter distanciamento, lavar as mãos e evitar abraços e, até, música alta para que os convidados não tenham que gritar, espalhando possíveis partículas virais no ambiente.

Pesquisador do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz-PE) e professor de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o epidemiologista Rafael Moreira lembra que não é todo mundo que pode promover esses encontros.

“Quem está com sintomas de gripe ou no período de até 14 dias com esses sintomas não deve participar desses eventos, assim como quem está aguardando o resultado de teste, teve contato com pessoas que tiveram sintomas nos últimos 14 dias e faz parte dos grupos de risco, idosos, com doenças crônicas, pulmonares e renais”, alerta.

O especialista acrescenta que, nesses encontros, é preciso fornecer talheres e copos individuais e toalhas de papel nos banheiros para evitar compartilhamento de objetos. Ele também recomenda que a reunião tenha até duas horas de duração e seja feita em um local com um número de convidados compatível para o espaço, considerando o distanciamento de dois metros entre cada participante.

“A gente tem que se resignar e ter conscientização para que possa comemorar outros momentos com os entes queridos de forma segura”, avalia Rafael Moreira.

Folha Pernambuco

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