Maciel Melo: Ampulheta da alma

17 de Oct / 2020 às 23h00 | Espaço do Leitor

O tempo...  
É um cavalo selado, de rédeas soltas, passando a galope; quem montar, montou, quem não montou não monta mais. 
O tempo não espera pelos medonhos desejos retardados, pelos sonhos arrependidos, nem tolera chorumela de quem, por dúvida ou por vacilo, puxou o cabresto na hora da ida. Quem não vai, fica. 
O tempo não para; nós é que desaceleramos a velocidade da vida à medida em que os ponteiros da idade começam a atrasar instantes imprescindíveis, que não se repetirão jamais. 

Chega um momento em que uma hora vale uma era, um minuto vale uma eternidade e um segundo vale uma vida inteira. 
Já não tenho tempo pra errar; o tempo que irei gastar consertando erros, vou usá-lo para amar, sorrir, dançar, beber, conversar e rir da morte toda vez que eu der um drible nela. 
O tempo foi generoso comigo: me deu sabença, me fez cantador, me ensinou que o medo é apenas o cuidado para não estacionar uma paixão numa ladeira e esquecer de puxar o freio de mão. 
O tempo é a ampulheta da alma; os últimos grãos de areia devem ser bem lavados em água de cacimba, para que se tornem cristais e façam cintilar os últimos instantes de nossas vidas.

*Maciel Melo-cantor e compositor

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