Artigo - Uma História Lambuzada (II)

28 de Sep / 2020 às 23h00 | Espaço do Leitor

Nada melhor para subsidiar uma análise ou reflexão sobre o cenário político do presente, do que olhar um pouco para trás e localizar alguns fatos históricos recentes ou passados, não importa o tempo decorrido. Eles sempre nos trazem lições preciosas, que podem nos oferecer explicações sobre alguns questionamentos.

Por exemplo, tinha pelo Partido dos Trabalhadores-PT um grande respeito pela potencialidade político-partidária que detinha no cenário nacional nas últimas décadas, mas, de repente, foi relegado ao ostracismo e as suas lideranças hoje silenciosas, para não dizer mudas e caladas, cujo comportamento se assemelha àquela criança que fez algum mal feito e se esgueira envergonhada pelos cantos da sala! Fui encontrar melhor clareza ao reler a crônica editada em 24/11/2016, cujo título acima foi inspirado em entrevista do líder petista Jacques Wagner, ex-governador da Bahia e atual Senador da República. 

A política partidária brasileira praticada nos últimos 75 anos, reservou um lugar especial na história do Brasil pelo extenso volume de variáveis que passou a oferecer a quantos se habilitaram a participar ou a entender o processo político nacional. O conceito preliminar que inspira a constituição de um Partido, tem como premissas fundamentais a existência de um Projeto político-ideológico definido e, obviamente, o comando da liderança política que o idealizou. 

Assim, surgiram em 1945, no pós-guerra, partidos integrados por proeminentes líderes políticos da época, que marcaram território por duas décadas: UDN-União Democrática Nacional; o PTB-Partido Trabalhista Brasileiro; PSD-Partido Social Democrático, esses três partidos os mais fortes e representativos; mais o PSP-Partido Social Progressista  e o PRP-Partido da Representação Popular. O PCB-Partido Comunista Brasileiro, foi fundado em 1922, mas teve uma história marcada por longos períodos de clandestinidade. Com o Golpe Militar de 1964, houve a imposição do bipartidarismo sem o uso do nome “Partido”, passando a existir apenas a ARENA-Aliança Renovadora Nacional e o MDB-Movimento Democrático Brasileiro, que duraram por 20 anos. Após o movimento das “Diretas Já” e o retorno da democracia, em 1985, outros partidos foram criados com denominações e composições diferentes, e ressurgiram aqueles tradicionais acima citados. 

Essas preliminares, contudo, não indicam a pretensão de qualquer estudo avaliativo da vida dos partidos políticos em suas diversas fases. Entretanto, torna- se evidente uma atitude nostálgica quanto à seriedade como foram criados, cujos vínculos dos seus integrantes tinham a marca da fidelidade a ideias e princípios, e não o que atualmente se presencia, ou seja, a avalanche excessiva de 35 partidos existentes e outros mais sendo criados a todo momento. Na sua maioria são apelidados, pejorativamente, de “Nanicos”, cujo compromisso maior é priorizar a negociação dos interesses dos seus fundadores, às vezes mantendo o governo como refém de certas exigências, muitas delas em causa própria.

O mundo político é sempre muito rico de fatos que ocupam espaço relevante no noticiário, com impactos positivos e negativos. Por exemplo a declaração feita pelo ex-governador Jaques Wagner, então Ministro-Chefe da Casa Civil (2016), um dos fundadores e figura de proa do petismo nacional, quando afirmou que o seu partido “errou por não fazer a reforma política”, e complementou: “QUEM NUNCA COMEU MELADO, QUANDO COME, SE LAMBUZA”. Foi criticado e quase execrado do partido pelos seus correligionários. Ora, a sua intenção não foi atingir ninguém, individualmente, mas, o partido que não teve respeito pela sua história e jogou no lixo todo o seu ideário de lutas. Isso significa dizer que o então Ministro estava certo!

Diria que, em respeito à sua militância, o PT ainda poderá se recuperar, no futuro, desde que aprenda o exemplo deixado pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek: “COSTUMO VOLTAR ATRÁS, SIM. NÃO TENHO COMPROMISSO COM O ÊRRO”. Esse pensamento não é apenas uma dica, mas, uma valiosa lição de vida para todos nós, principalmente, aos senhores políticos.

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público.

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