Representação de trabalhadores e de cortadores manifesta preocupação com possível suspensão do corte manual da cana na Agrovale

01 de Sep / 2020 às 06h30 | Variadas

Em entrevista concedida na manhã deste domingo (30) no programa Mensageiro Rural, na Rádio Juazeiro, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Juazeiro (BA), José Manoel dos Santos (Zezinho), e Nadson Santos, representante dos cortadores de cana, externaram a preocupação com relação a medidas tomadas, de forma monocrática, por representantes da Justiça, em Petrolina, determinando a suspensão da atividade do corte de cana na empresa Agrovale, responsável pela maior geração de empregos na região, notadamente na categoria que o sindicato representa.

José Manoel informou que representantes da categoria se reuniram nos últimos dias para avaliar posições a ser tomadas em virtude do “colapso” que essa decisão representa para os trabalhadores e os impactos que ela causa na economia regional:

"Recentemente o Ministério Público do Estado de Pernambuco conseguiu uma liminar proibindo a queima da palha da cana na empresa Agrovale e isso fez com que o sindicato acompanhasse mais de perto ainda a situação  dos trabalhadores, onde envolve milhares e milhares de vagas de empregos, através de uma decisão monocrática, do ministério Público  do estado de Pernambuco, tomando uma decisão de tal dimensão e de grande impacto”, disse, ressaltando a importância de uma outra decisão, em instância superior, que suspendeu a liminar e voltou a permitir que os trabalhadores possam continuar exercendo suas atividades.

Nadson Santos, representante dos cortadores de cana, externou sua preocupação com a possibilidade da ação prosperar e cortar milhares de postos de empregos na região: “A Agrovale tem mais de 5 mil funcionários e só no corte da cana tem mais de 1.300 trabalhadores cortando a cana e que dependem do corte da cana... porque isso daí não vai afetar só o corte de cana não,  vai afetar o tratorista,  que é o que leva a cana para o  a usina, o que colhe a cana no campo, isso tudo ai gera emprego pro pessoal. Eu falo 1.300 cortadores mais , só os cortadores...mas tem a área que pega os marginários, os pipeiros, que vai ai numa base de 2 mil empregos, caso chegue a proibir a queima da palha da cana e isso ai não é bom pois vamos ficar sem o emprego”, alertou.

De acordo com Nadson, a empresa pode até mecanizar, mas quem vai sofrer é o trabalhador: “A empresa, se for obrigada a mecanizar, a gente é que vai ficar sobrando...porque a diminuição do emprego ai tá grande, muitos cortadores de cana não tem leitura, não tem estudos pra buscar outros empregos e muitos tem, mas não tem oportunidade de embarcar em outra área. Aí recorre ao corte da cana e é de lá que tira o sustento de toda a família, se isso ai chegar a acontecer e parar o corte da cana aonde é que os trabalhadores vão achar sua renda pra puder se sustentar, sustentar sua família, pra sobreviver?”, questionou.

Para Nadson os benefícios proporcionados pela Agrovale à economia na região precisam ser levados em conta: “É isso ai que a população tem que entender e ajudar, não só criticar o carvão da cana. Eu corto cana a 15 anos e estou bem de saúde, graças a Deus. Tem Armando que é representante que corta cana a há 28 anos, no meio disso e nunca teve nenhum problema de saúde. Pode resultar alguma sujeira, mas a maior renda aqui no município é toda de cana, pro salário dos trabalhadores”, justificou.

O presidente do sindicato, José Manoel dos Santos (Zezinho), informou que a entidade está se mobilizado por entender que “essa é uma decisão que coloca em risco em todos os aspetos, porque imagina se o trabalhador se revolta, quer se mobilizar, fazer passeata, quer fazer manifestação isso pode se agravar essa questão da pandemia”, alertou.

Para ele é necessário olhar com cuidado pra essa questão, com o olhar voltado também para o emprego: “O tribunal de Justiça de Pernambuco entendeu como salutar, caçar a liminar, mas é uma discussão que é de longos anos que nós temos aqui na região e está na hora da população  e entidades, Ministério Público, tratar da situação com um olhar voltado para o emprego, para os trabalhadores, para a questão social e não só de observar, muitas vezes por pressão da mídia regional, de alguns que, quer queira, quer não, gostariam de ter nos seus municípios uma Agrovale”, finalizou.

Um levantamento feito pela Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB, que a redeGN teve acesso, aponta que o estado de Pernambuco, de onde partiu a decisão de suspensão das atividades da queima da cana, apresenta apenas 1,2% de colheita mecanizada, enquanto a Bahia se destaca com uma média percentual de 15,1%. 

Da redação redeGN

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