Carcará: Ser campeão pernambucano não é mais uma meta inatingível para os clubes do Interior

06 de Aug / 2020 às 23h00 | Espaço do Leitor

O silencio da noite da quarta-feira (05/08/2020) foi quebrado pelo espocar de alguns fogos. Pensei: alguém estocou nitrato de amônio em casa. De imediato, volto a concentrar minha atenção na televisão, que me mostra um estádio vazio e um grupo de jogadores pulando com uma taça na mão. Um tipo de comemoração comum, corriqueiro, que estamos acostumados a ver em todos os continentes do planeta terra.

O fato saiu do lugar comum por conta dos protagonistas. Aqueles que festejavam a conquista não eram jogadores do Sport, Náutico ou Santa Cruz, como estamos acostumados a ver há mais de cem anos. Aqueles atletas que mudaram o curso da história eram do time do Salgueiro. A façanha não foi testemunhada por torcedores nas arquibancadas do estádio do Arruda por imposição da pandemia que o mundo atravessa. Tal detalhe, tornou o acontecimento ainda mais surreal, diante da monótona tradição que se seguia no futebol pernambucano.

Certa vez, num agradável bate papo com o técnico Geninho, ele me falou que, "a bola bate na trave uma vez, duas vezes, mas na terceira vez ela entra". Sua premonição se consolidou na noite fria, nas Repúblicas Independentes do Arruda. O Carcará havia sido vice-campeão em 2015 e 2017. Enfim, chegou a sua vez: a bola entrou. SALGUEIRO CAMPEÃO! Campeão pernambucano. Campeão na pandemia. Surreal!

Fecho os olhos e lembro da frase antológica com a qual o saudoso Ivan Lima finalizava as jornadas que comandava: "O palco da luta está deserto".

O fato histórico não era respaldado pelo eco dos gritos dos torcedores. Faltou o referendo popular.

Solto a imaginação nas asas do Carcará. Vejo o sertanejo, Raimundo Carrero, um dos maiores escritores brasileiros da atualidade, chegando na sua cidade natal, Salgueiro, liderando uma carreata a bordo de uma carruagem de fogo tocando Bolero de Ravel com o seu saxofone mágico.

O gol foi legitimo!

Grita o tricolor, Mala Muniz, registrando que, durante o jogo houve um erro crasso da arbitragem na anulação de um gol do Santa Cruz. Recordo que, em 2017, no seu estádio, o Cornélio de Barros, o Salgueiro foi garfado na decisão do título com o Sport. Um erro que, inclusive, foi referendado pelo VAR, ainda em fase de testes no futebol brasileiro.

A polêmica sobre a arbitragem serve para mostrar que a conquista do Salgueiro é real. Deixou de ser um sonho. Ser campeão estadual não é mais uma meta inatingível para os clubes do Interior.

O feito não chega a ser um fato transformador. Os grandes clubes da Capital – Sport, Náutico e Santa Cruz – seguem sendo os maiorais. O fato histórico serve apenas de grito de alerta, para mostrar que as estruturas do Trio de Ferro foram corroídas pela incompetência de várias gestões.

Por Claudemir Gomes

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