A violência filmada, compartilhada, a banalização da morte e a espetacularização nas redes sociais

05 de Feb / 2020 às 06h00 | Policial

Ano passado a jornalista Julliana de Melo, do Sistema Jornal do Commercio (Recife) ganhou destaque e prêmio com a produção da reportagem: A Violência filmada e compartilhada.

Numa das cenas ela mostra que "foram 45 facadas. Lentamente, a cada golpe desferido, um ano de vida era retirado da agricultora Ivonete Maria dos Santos. Morreu aos 45 anos, brutalmente assassinada pelo companheiro, Severino Antônio Vieira, 54, na calçada de casa, em São Joaquim do Monte, Agreste de Pernambuco, no dia 18 de março de 2018. As imagens da sua morte, vista em plena luz do dia pelos vizinhos, foram gravadas em vídeo, fotografadas, e compartilhadas nas redes sociais e grupos de WhatsApp. Assim como o linchamento do agressor, que aconteceu logo após o assassinato da esposa. Uma violência sem tamanho, que gerou views e revolta. E mais violência".

O que logo chama a atenção nas cenas de violência, ocorrida após discussão é que a população viu o crime acontecer e não se mobilizou para impedir o trágico desfecho.

Fevereiro de 2020. A avenida Adolfo Viana, no centro de Juazeiro, Bahia também foi transformada em um palco de um caso de extrema violência na noite do último sábado (01). De acordo com informações, um homem foi estaqueado na frente de populares próximo ao banco Itaú. Os dois teriam iniciado a briga em outro local, mas o agressor conseguiu atingir a vítima na Avenida. Horas antes o homem esfaqueado, segundo video que circula na internet, as irmãs Norma Sueli e Nelia, resolveram contar o que aconteceu no dia em que  Edson de Souza Matos, 35 anos, foi esfaqueado pelo cunhado na Avenida Adolfo Viana em Juazeiro (BA). Elas revelam que o Edson, que estar internado no Hospital Universitário, "horas antes agrediu elas e uma senhora de 73 anos".

Videos e fotos continuam circulado nas redes sociais, mas preferimos não postá-las diante do alto grau de violência. O agressor foi preso e o esfaqueado foi levado com vida ao hospital de Traumas. 

Em contato com a assessoria de imprensa do Hospital Universitério não conseguimos obter informações sobre o estado de saúde do homem que sofreu as facadas.

Na cena que envolveu Ivonete, no Agreste de Pernambuco, a distância, impressionados com a cena dantesca das víceras expostas na rua, alguns vizinhos chegaram a gravar o crime; existe uma semelhança com a violência e Juazeiro: ninguém tentou separar os homens em luta corporal; 

Entre a banalização do corpo daquela mulher e a espetacularização do assassinato, compartilharam tudo nas redes sociais. Rapidamente e sem cortes, os últimos minutos de vida de Ivonete já estavam sendo exibidos nos blogs do interior do Estado e programas policiais de TV.

Este é um fenômeno novo, que chega com a grande exposição nas redes sociais. Postar a foto da vítima, para ter audiência (likes e curtidas), tornou-se mais importante do que prestar socorro. A pessoa está mais preocupada em informar pelas redes que estava presente naquele momento, mesmo que seja uma calamidade”, destacou a coordenadora de projetos do Instituto Maria da Penha, Conceição de Maria.

Redação redeGN / Blog Geraldo José

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