Surto de doença de Chagas no Sertão acomete moradores da Região Metropolitana do Recife

01 de Jun / 2019 às 19h00 | Variadas

Um surto de doença de Chagas em Ibimirim, no Sertão pernambucano, acometeu pelo menos 20 pessoas durante uma missão religiosa realizada durante a Semana Santa na cidade. A informação é da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), que divulgou o caso na sexta-feira (31). Os pacientes são moradores da Região Metropolitana do Recife (RMR) e têm uma média de 25 anos. Ao todo, 77 pessoas estiveram presentes nesse evento e todas serão acompanhadas pelo sistema de saúde. Segundo a SES-PE, esse talvez seja o maior surto de Chagas no Brasil, já que existem 25 casos sintomáticos, dos quais 20 até agora já foram confirmados por exames. 

A negativação do exame nos demais casos não exclui que a pessoa foi contaminada, já que os sintomas confirmam. O setor da vigilância e saúde do Estado ainda está investigando as causas, mas a principal suspeita é de que tenha sido uma infecção oral, através de algum alimento ou bebida compartilhada. Uma infecção vetorial, ou seja, pela picada do besouro, não foi descartada. A resposta para isso será dada com a investigação.

Apesar de os casos terem ocorrido no feriado da Semana Santa, em abril, a primeira notificação chegou ao Estado apenas no dia 20 de maio, cerca de um mês depois. Atualmente, segundo a SES-PE, há três pacientes já com algum comprometimento cardíaco e um com complicações no pulmão apresentando dificuldades respiratórias. 

Todos se encontram internados no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), no bairro de Santo Amaro, na área central do Recife, e estão sendo tratados com o medicamento Benzonidazol, produzido exclusivamente pelo Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (Lafepe). 

Inicialmente, com os sintomas gerais, os médicos acreditavam se tratar de arboviroses e, em seguida, malária, por ter pacientes provenientes do Conde/PB, onde há uma epidemia do tipo. Um teste rápido deu positivo para malária, mas, ao levar para a lâmina, a possibilidade foi descartada e identificado o parasita da Chagas. 

"Quanto mais rápido tratar, melhores as chances. A cura não é de forma imediata e depende muito do paciente - a quantidade de parasitos no corpo, a idade. Já sabemos que os mais jovens têm chances maiores de cura e de não desenvolver doenças ligadas ao coração", afirmou o cardiologista Wilson Oliveira, diretor-presidente da Casa de Chagas, do Huoc.

Sintomas como dores na região abdominal, lesões no rosto, olhos amarelos e inchados, assim como febre por mais de 20 dias nos pacientes ajudaram a chegar ao diagnóstico de forma precoce, evitando que a fase aguda evoluísse para crônica. Por se tratar da fase aguda, ainda há possibilidade de cura. Todos tomarão Benzonidazol por 60 dias. De acordo com a equipe médica, a negativação pode chegar apenas depois de anos - depende muito de cada caso -, mas todos serão acompanhados durante toda a vida.

Com o surgimento dos casos, 13 pessoas fizeram teste rápido para tentar identificar a causa da doença. O diagnóstico foi fechado na última terça-feira (28). A secretaria ressalta ainda que busca, em conjunto com equipes da Regional de Saúde e da cidade de Ibimirim, outros casos suspeitos. A SES-PE ressalta que tenta localizar, em conjunto com equipes da Regional de Saúde e de Ibimirim, outros casos suspeitos na cidade.

Segundo a SES, não há motivo para preocupação da população em geral. "Pedimos que a população não se preocupe. Todo o protocolo já está sendo seguido. Ressaltamos que não é algo no município de Ibimirim, mas, sim, em uma localidade, em uma situação específica", afirmou Marcela Abath, superintendente do Sanar de Doenças Negligenciadas no Estado de Pernambuco.

A doença de Chagas é causada pelo protozoário Tripanossoma cruzi, cujo vetor é o triatomíneo (conhecido como barbeiro). Outra forma de transmissão é por meio de alimentos contaminados pelo Tripanossoma cruzi. Os sintomas são febre contínua, intermitente e prolongada por cerca de sete dias. 

Outros sinais da doença são edema de face ou de membros, exantema (manchas vermelhas na pele), adenomegalia (inchaço de gânglios), hepatomegalia (inflamação do fígado), esplenomegalia (inflamação no baço), cardiopatia aguda, manifestações hemorrágicas, icterícia, náusea, astenia (perda ou diminuição de força física), mialgia (dor nas articulações) sinal de Romanã (edema inflamatório nas pálpebras) ou chagoma de inoculação (edema inflamatório na pele).

Existem cerca de 2 milhões de casos da doença no País, dos quais 830 são casos crônicos em Pernambuco.

Folha Pernambuco

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