Greve digital: 60% dos caminhoneiros souberam da paralisação pelas redes

01 de Jun / 2018 às 21h30 | Variadas

Diferentemente de outros movimentos grevistas, a paralisação dos caminhoneiros não teve como pontos decisivos as assembleias da categoria ou a tradicional organização por sindicatos de trabalhadores. Em tempos de popularização da tecnologia, os motoristas de caminhões utilizaram smartphones e aplicativos de mensagens para se comunicar e organizar o movimento que imobilizou o Brasil nos últimos 10 dias.

Pesquisa realizada pela TruckPad — startup que conecta caminhoneiros às transportadoras de carga, espécie de Uber do setor —, mostrou que a maior parte dos motoristas (cerca de 60%) ficou sabendo do movimento grevista por meio do WhatsApp e pelo Facebook, enquanto apenas 1,52% foram comunicados diretamente pelo sindicato ou associação de classe a que pertencem. O levantamento dos dados foi realizado na última terça-feira, quando as negociações ainda estavam em andamento entre o governo e os representantes dos transportadores.

“Essa é a primeira greve de vulto organizada digitalmente. Isso mostra que, ao contrário do que se pensa, os caminhoneiros estão digitalizados e utilizando a tecnologia no seu dia a dia”, disse Marcos Mira, presidente da TruckPad, dona do aplicativo que conecta os caminhoneiros às transportadoras de carga.

Marcos Mira lembra que ficou claro que o governo não usou o canal certo para se comunicar com os grevistas, uma vez que os caminhoneiros não seguiam uma única liderança nem reconheciam os negociadores como seus legítimos representantes. “O governo deveria ter utilizado uma plataforma digital para ser ouvido pelos grevistas, o que teria sido bem mais eficaz”, disse o empresário.

Segundo Mira, a ideia de fazer o levantamento foi uma forma de identificar o perfil dos grevistas e saber o que realmente estava acontecendo com o setor de cargas. Para isso, a empresa enviou enquete com oito perguntas a 9 mil usuários do aplicativo. Em apenas uma hora, recebeu 1,5 mil respostas.

Assim, foi possível saber que 71,2% dos caminhoneiros não estavam parados nas rodovias brasileiras, mas em suas casas, acompanhando o movimento pela internet e se comunicando com os colegas por WhatsApp e Facebook, e 25,2% se encontravam estacionados nos acostamentos ou em barreiras montadas pelos grevistas. Pouco mais de 3% responderam que conseguiram trabalhar, porque haviam furado os bloqueios. Do total dos entrevistados, 81,8% se disseram autônomos e 10,6% empregados de transportadoras.

Questionados sobre a disposição de continuar a paralisação, 74% dos motoristas informaram, na terça-feira, que estavam dispostos a manter a paralisação pelo tempo que fosse preciso, o que pode explicar a demora na volta dos caminhoneiros ao trabalho.

Outro dado que chama a atenção na pesquisa é a quantidade de caminhoneiros que se disse sem vínculo com sindicatos ou associações de trabalhadores, o que também explica a dificuldade e a demora para o governo fechar o acordo e acabar com a greve. Do total de 1,5 mil entrevistados, 96% informaram não fazer parte de qualquer entidade de classe. Somente 4% responderam que são sindicalizados.

O aplicativo TruckPad registra 1 milhão de downloads e cerca de 700 mil caminhoneiros utilizam a plataforma, além de empresas como P&G e ArcelorMittal. Com investimentos de US$ 100 mil, e aportes das empresas Movile e Mercedes-Benz, ela foi fundada por Mira em 2013, tornando-se assim a primeira startup voltada ao transporte rodoviário de cargas, atendendo tanto caminhoneiros quanto a transportadoras.

A paralisação dos caminhoneiros abriu frente de negócios para a startup: a realização de pesquisas junto a um universo gigantesco de profissionais da área. Ainda que sem valor científico, elas indicam tendências e ajudam a entender a realidade das estradas brasileiras.

Correio Braziliense Foto: Ilustração

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