ARTIGO – O GRITO DO CORRUPTO: “PERDÃO, A CARNE É FRACA!”

A carne não é fraca; o que é fraco é o teu caráter. (Vinicius Queiroz)

É impressionante como a nossa gente foi forçada pelas circunstâncias históricas recentes, a conviver com um mundo de matizes os mais variáveis e conflitantes possíveis, onde os valores perderam o sentido, as autoridades estão com a dignidade questionada e os Poderes da República têm negada a sua legitimidade...! Também os discursos perderam a originalidade e a credibilidade...!

É como se o país tivesse chegado ao ápice da sua trajetória, mas construído esse percurso com material falso e de qualidade duvidosa, para não dizer de péssima qualidade. Agora, percebemos o quanto foi irreal que a nossa economia tenha sido exaltada como a 6ª. do mundo nos últimos tempos, superando a Itália e o Reino Unido, conforme os analistas mundiais, e atualmente vivenciamos o lado oposto da moeda, submetidos à amargura do deboche em toda a imprensa internacional pelo quadro recessivo e desmoralizante que o país passa. Como se estivéssemos vivendo no mundo da fantasia e, de repente, o castelo dos sonhos se desmoronou...

Com o surgimento da Operação LAVA-JATO há três anos, ninguém imaginava que o Brasil fosse inaugurar uma nova era na sua história, em que os infratores eram chamados do “Colarinho Branco”, no passado, e sempre se safavam de qualquer punição pelos crimes cometidos, desfrutando a glória de uma imunidade permanente e inconcebível. Agora, temos recolhidos à prisão nomes que estavam presentes na cúpula do comando político da república e dos Estados. Não pretendo, com isso, crucificar todos os magistrados que precederam esse quadro atual, mas, obviamente que surgiu um apêndice benéfico no Judiciário, representado por Juízes e Procuradores jovens e determinados a passar esse país à limpo. E está passando! É inquestionável que é muito grande o índice de aprovação a essa nova postura, embora os mais sectários da política radicalizam e se opõem a toda e qualquer ação, colocando “chifre em cabeça de porco” a todas as decisões que atingem os políticos das suas facções, mesmo que corruptos inveterados! A sociedade brasileira tem de estar coerente na defesa da continuidade das investigações e punições, a fim de podermos atingir a sonhada reposição da nação nos trilhos da honestidade, seriedade e trabalho.

As tristes consequências resultantes das investigações sobre a rede de frigoríficos nacionais, com prisões de dirigentes e funcionários do Ministério da Agricultura incumbidos da fiscalização e envolvidos com irregularidades quanto à qualidade da produção de carne bovina de 21 empresas, tem sido muito questionada pela repercussão negativa no mercado internacional. Ora, se tanto reclamamos a falta de cumprimento à exigência do texto Constitucional de Transparência da coisa pública (Art. 37, da Carta Magna), e a Operação Lava Jato só alcançou resultados positivos exatamente por não ocultar as apurações, não podemos condená-los com tanta veemência por uma eventual falha! Até concordo que nessa “Operação Carne Fraca” por envolver um forte produto do nosso mercado de exportação, poderia ter sido aplicada uma estratégia diferenciada e que preservasse a estabilidade e imagem da nossa indústria, poupando o mercado dos prejuízos incalculáveis e inevitáveis. Mas, os créditos acumulados ao longo desses três anos pela Lava Jato superam as falhas fortuitas, não tenho qualquer dúvida.

Não sei qual foi a inspiração de quem teve na Polícia Federal ou Ministério Público a ideia de denominar a última Operação de “CARNE FRACA, mas, a verdade é que, antes de significar o real estado fragilizado da carne no mercado, o título lembrou mais as justificativas tradicionais daqueles portadores de culpa pelas sujeiras ocultas, hoje bastante abundantes em nosso país. Ecoa em todo o Brasil como o aflito e pungente grito dos corruptos: “Perdão, a Carne é Fraca”!

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Gramado-RS).