O delicado momento da vida brasileira, caracterizado por dificuldades econômicas que surpreenderam pelo irracional e desastroso processo de ocultamento da sua realidade, cuja maquiagem teve como objetivo as conveniências eleitorais, de repente atingiu com violência a vida da população brasileira com efeitos semelhantes ao impacto de um meteoro que se projeta sobre a terra. O aparente mar de tranquilidade que era oferecido ao consumo público, tinha a proteção de um aparato de mentiras oficiais, fatos que encontraram paralelo no diálogo registrado entre a ex-presidente da Petrobrás Graça Fortes e o ex-Ministro da Fazenda Guido Mantega, que presidia o Conselho de Administração da Petrobrás, sobre perdas patrimoniais da estatal da ordem de 88,6 bilhões de reais, em que o ministro desejava ocultar a verdade e ela o contestava, dizendo: "Se não divulgarmos os dados, estaremos mentindo”. Como transmitir a verdade era uma atitude que contrariava as estratégias oficiais, a Graça Fortes irritou a Presidência da República, que, finalmente, determinou a sua substituição do cargo, como era a expectativa geral.
Esse episódio amplamente comentado na imprensa nacional deve ter sido apenas mais um dentre tantos largamente praticados nos bastidores oficiais, cuja índole era camuflar a verdade dos números e assim, com uma vara de condão, produzir na sociedade brasileira um mundo de sonhos e ilusões. Enquanto potências mundiais viviam em crise econômica, “surpreendentemente” o Brasil parecia ter descoberto a fórmula mágica que o deixava imune aos efeitos externos e assim a nossa economia estava protegida por uma aparente couraça de soluções que a tornava apta a superar todas as tragédias e viver num mar de rosas vermelhas. Maravilha...? Ledo engano! Vencida a etapa eleitoral de 2014, logo o castelo ruiu e mesmo antes da posse da presidente para o seu segundo mandato, as verdades vieram à tona e a nação passou a conviver com uma triste realidade para os próximos anos, com prenúncios até mesmo de uma indesejável recessão econômica.
Colocado entre os dois poderes que se digladiam com ferocidade, está o Poder Judiciário, que tem a elevada responsabilidade da missão: “eu aplico as leis”. Impõe-se uma reforma constitucional, a fim de que na escolha dos magistrados possa ter a participação de setores da sociedade providos de saber jurídico, eliminando-se o caráter político da indicação pela Presidência da República, o que reduziria os conflitos com a Suprema Corte.
Mas, não obstante o sonho do milagre tenha passado, o país conta com um povo resignado, que novamente vai ser convocado a compreender a crise nacional. Em qualquer nação do mundo, quando o seu povo é convocado a um esforço de recuperação por um estado de grave crise econômica, espera-se sempre que haja uma aglutinação de forças de todos os segmentos da sociedade, em que todos os Poderes da República também estejam coesos e até dispostos a superarem as suas divergências para que o sucesso seja alcançado. Isso seria o normal. Mas aqui é Brasil, onde todos querem o seu quinhão... ou bilhão?
O que a sociedade brasileira está assistindo, contudo, é algo bem diferente. As disputas de toda ordem entre o Legislativo e o Executivo não evidenciam a existência de uma preocupação real com a crise, mas uma valorização dos projetos pessoais e político-partidários. O governo, como refém da sua própria base partidária – e não da oposição como seria de se imaginar -, quase não consegue cumprir a missão do “eu administro” porque tem de pensar durante 24 horas do dia como fazer para agradar aos seus próprios partidários, insaciáveis por cargos e verbas.
Em complemento a tudo isso, circulam notícias na imprensa de que os parlamentares pretendem apresentar duas propostas inusitadas de emendas à Constituição Federal: a) que propõe impedir a recondução do atual Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, no final do seu mandato, o que a lei permite; b) que pretende permitir a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado, na mesma legislatura, o que a lei proíbe. Pode-se chamar isso de “legislando em causa própria”. Considerando que o Procurador Geral investiga a suspeita de envolvimento dos dois presidentes na Lava Jato, e tem outros parlamentares na mira, pune-se essa autoridade pelo cumprimento do dever, e assim o problema investigativo estará superado, temporariamente. De outra parte, viabilizando a reeleição dos atuais presidentes das Casas Legislativas, eles continuarão “dando as cartas” e presidindo por mais dois anos o Poder que mais negocia vantagens com o governo e quase nenhuma alternativa apresenta, porque só olham para o próprio umbigo...
Diante dessas observações e dentro da visão de responsabilidade que representa o papel do Poder Legislativo no contexto de uma República Democrática - “eu elaboro as leis” -, seria de se esperar mais autenticidade no desempenho da função de propor, discutir e aprovar as leis que regem a Nação. Urge mudar o entendimento de que o Congresso Nacional mais parece um lugar de conchavos do que sede de um Poder democrático e tão representativo. E isso, não sou eu quem diz; infelizmente, é o mundo todo.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
6 comentários
24 de May / 2015 às 23h10
GRANDE AGENOR, que ilustração interessante...!!! Agora você me deixou na maior dúvida como realmente funcionam os poderes, porque salvo engano aprendemos diferente... Pelo que entendi está tudo meio trocado, ou como diz os menos esclarecidos está tudo TRUNCADO entre eles... Quem recebe os efeitos maléficos disso tudo? O POVO... !!! Suas colocações pertinentes e atinentes, incluindo a ilustração, nos mostra uma infeliz realidade que persiste e tomara não perdure...!!!
24 de May / 2015 às 23h17
Valeu. Que beleza de abordagem! Parabéns. (Maracás-BA)
24 de May / 2015 às 23h23
Parabéns mais uma vez, amigo! (Central-BA).
24 de May / 2015 às 23h51
Mais um competente ARTIGO. Parabéns. (Horizontina-BA).
25 de May / 2015 às 00h38
só educando o povo só com boa saúde publica podemos Gritar !
25 de May / 2015 às 08h23
Infelizmente estamos contaminados pelo patrimonialismo, em que o maior interesse dos chamados três poderes é praticar a proteção mútua. Agenor, parabéns pela sua coragem em descrever o problema de forma tão direta e contundente, revelando toda uma indignação pelos atos absolutamente irresponsáveis que afloram diariamente na vida pública brasileira. Agora, sim, podemos dizer, "Nunca antes na história deste país" estivemos em uma situação tão vergonhosa. Corrupção e clientelismo. Favores e retribuições.Absolutos.Foz do Iguaçu-PR.