Ainda que felizmente pacíficas, as últimas manifestações populares no país desenharam cenários diferenciados para os analistas que escrevem a história política brasileira, cada qual com características próprias e bem definidas. De um lado, uma caminhada bem organizada e rica em acessórios, bandeiras, faixas e camisas de cores vivas, como se estivessem a identificar as diversas alas de um desfile, denominadas de MST, MTST, CUT, CONTRAF, CTB, UNE, entre outras variadas facções e tendências, sob o comando de algumas lideranças bem profissionais no ramo e há anos bem alimentadas por verbas oficiais que transitam através de conhecidas ONGs... Alguém sabe onde trabalha algum líder dessas entidades? Provavelmente, não.
Coincidentemente, o movimento em defesa da imagem desgastada da Presidente Dilma, se realizou no dia 13, o que bem identifica a inspiração partidária do movimento, empenhado na difícil tarefa de defender um governo eleito e em queda descendente no conceito popular, já que atingiu 62% de desaprovação, segundo o Instituto Datafolha! Uma dúvida fica evidente: este país já estava mal das pernas durante o período eleitoral e foram hábeis em ocultar a realidade para milhões de brasileiros, ou conseguiram destroçar essa economia nesses últimos oitenta e dois dias? Foi divulgado pela imprensa que cada pessoa uniformizada recebeu dos movimentos sociais uma contribuição de R$ 35,00 pela “espontânea” participação no evento...! Ora, se verdadeiras essas informações, a manifestação adquiriu um cunho quase que oficial e numa evidente louvação em causa própria, visto que recebem apoio financeiro através de ONGs, e elas através do governo!
Mas, da outra parte, uma população desencantada de 2,3 milhões de pessoas, em 160 cidades por todo o Brasil, também foi às ruas manifestar o seu repúdio por ver o país descendo a ladeira em direção a uma recessão econômica, agravada pela constatação de que foi produzida uma avalanche de mentiras para ocultar a verdade. A mistificação dos números ganhou proporção tão exagerada que o brasileiro sorria eufórico por ver que a crise econômica que afetava as potências pelo mundo a fora, não nos atingia... Parecia que tínhamos encontrado a “varinha mágica” que nos blindou contra todas as mazelas externas. Vivíamos num mundo dos sonhos, no qual o Brasil era uma potência política e econômica, e como tal, nada mais justo do que ajudar as ditaduras dos países africanos, perdoando-lhes as dívidas ao final do Governo Lula, o que torna evidente que é uma farsa o discurso contra as ditaduras; o país investiu acima de 1,0 bilhão de dólares num porto em Cuba, enquanto os nossos estão decadentes e superados; o Evo Morales, disfarçado ditador da Bolívia em 3º. mandato presidencial, praticamente expulsou a Petrobrás do território boliviano, sem qualquer indenização; a nossa maior aliança política no continente é com a Venezuela, onde o aprendiz de ditador, Maduro, obteve no congresso poderes para governar por decreto (nada diferente da era militar brasileira); e o que dizer da indiferença com a nossa Petrobrás, aniquilada pela bandidagem que dela se apossou nos últimos anos...? Alguém está atuando com firmeza para recuperá-la?
Todo esse cenário infeliz, construído em tão pouco tempo, só poderia desaguar num mar de insatisfação das massas. Louve-se o notável grau de conscientização, evitando, por todos os meios, que a manifestação do dia 15 se atrelasse a partidos políticos ou que a violência irresponsável a dominasse. Foi tão inesperada a dimensão nacional e internacional adquirida pelo movimento, que logo a presidente reuniu os seus assessores para uma avaliação, designando dois Ministros para um pronunciamento na televisão, os quais, com palavras gaguejantes, passaram ao público que assistia em casa que “o governo aprova as manifestações democráticas” e ainda a hilária e ridícula frase de que “aqueles que estavam nas ruas eram eleitores que não votaram na Presidenta”! Que óbvio, Ministro! Acho que o senhor inventou a roda nesse dia, tamanha foi a novidade anunciada!!! Melhor que encontrem soluções efetivas para os problemas que atormentam o povo brasileiro e parem com as frases de efeito, tipo “chega de golpismo”, “não queremos terceiro turno”, etc.
Continuo afirmando que não compartilho com o grito de “Fora Dilma”, porque não será a solução. Temos um Vice-Presidente mudo e apático, integrante do partido que mais quer indicar cargos e Ministérios nesse país, e em toda essa crise não apresentou uma mínima pauta de soluções ao Governo do qual diz ser parceiro: o PMDB.
Apesar do lamaçal que ronda o governo, constitucionalmente ainda não existem motivos para um impeachment e este, se acontecer, só interessa a uma pessoa neste país, que retornaria empunhando a bandeira redentora da nação: O LULA! E você, leitor, percebeu que como mentor confidente da Presidente, de forma intencional, ele é o único MUDO deste país? Submetida a presidente a toda essa turbulência política, em qual momento foi à televisão defendê-la?
Diante de todas essas incertezas, uma frase do colunista Vladimir Safatle, da Folha, encerra uma verdade que merece análise: “Impeachment é pouco, é cortina de fumaça para um país que precisa da refundação radical de sua República” (grifo nosso).
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
10 comentários
22 de Mar / 2015 às 23h10
GRANDE AGENOR, esse texto realmente atenta para um filme que já vimos... Eu diria que pelo jeito ainda vamos ver é coisa e muito mais viu!!! Suas colocações todas centradas numa infeliz realidade que se apresenta nada mais é, do que a mais pura e dura verdade... Na ilustração do lado direito, onde se ler SACO CHEIO, deveria ser SACO TOTALMENTE VAZIO, pois, cheio mesmo, estão os sacos e sacolas deles...!!! Ou não?rsrsrs...
22 de Mar / 2015 às 23h21
Aprender e aprender, essa é a nossa sina. Estou aprendendo e a cada dia vejo que tenho muito a aprender. Impunidade gera impunidade. Lembro de tempos antigos, quando ainda empregado (ou funcionário) de um grande e sério banco (hoje me parece que é apenas grande - deixou de ser sério), quando os negócios andavam nos trilhos e não em trilhas ou autopistas. Assim podemos falar dos movimentos do MST (e demais envolvidos com os companheiros) quando comparados com os movimentos populares, sem vinculação direta com partidos, em especial com o PT (ou pt). Dizem que os primeiros são amparados pelo ParTido da situação e suas manifestações são, digamos... toleradas. Já os demais... pau e pau. Os defensores do PT (ou pt) são fiéis ao procedimento de combater (desqualificar) o denunciante e incapazes de desfazer (desqualificar) a denúncia. Falam (criticam/acusam) do "tuminha" mas não desqualificam as afirmativas/afirmações, principalmente sobre o "barba". Sobre Impeachment, falaremos depois da conclusão das investigações. Precisamos investigar muito e não esquecer: o "caminhão de dinheiro em Portugal", dinheiro na cueca, a participação da secretária da presidência Rose em episódios diversos, os empréstimos do BNDES (principalmente os com cláusulas de confidencialidade), etc e etc. Talvez mereça uma pesquisa científica no QI do filho do ex-presidente pois é rara essa tamanha capacidade de ganhar dinheiro. (Florianópolis-SC)
22 de Mar / 2015 às 23h26
Meus parabéns por mais uma pérola de crônica. Em poucas linhas você traçou e descreveu todo o cenário que desenrolou nestes últimos dias em nosso País. Nada mais temos a acrescentar. (Rio de Janeiro-RJ).
22 de Mar / 2015 às 23h41
Na realidade, o que precisamos é uma Nova Constituinte. Uma sugestão para sua próxima crônica: A LEI DE LICITAÇÕES ESTÁ ULTRAPASSADA. (Salvador-BA).
22 de Mar / 2015 às 23h47
O Sr. reaca de volta co0m as suas vertentes direitistas.Rextinho reaça e imbecil!
23 de Mar / 2015 às 08h45
Agenor, a sua descrição da atual situação no Brasil é espetacular. De um lado, o desencanto com o conto de fadas que foi imposto ao brasileiro. Permeado pelas benesses distribuídas aos "companheiros bolivarianos". E culminando com o salvador da pátria esperado, que efetuará a "redenção" do sistema político atual. Mas o brado das ruas revela que a população está aprendendo a distinguir o mito da verdade. Menos os poucos ideólogos que ainda respondem com falta de educação e ameaças aos que que expõe suas idéias baseados na realidade. E que respondem com agressões e sofismas ao bom senso. Sem respeito. Com péssima ortografia.Foz do Iguaçu-PR.
23 de Mar / 2015 às 09h26
Fico impressionado com a quantidade de lugares comuns do texto. Aliás, a expressão correta seria abismado ante o nível da argumentação, sem problematizar nada concretamente e sequer buscar contextualizar os acontecimentos com contribuições da sociologia, da história, da filosofia e até da crônica literária. Isto, convenhamos, é muito decepcionante vindo de alguém que se diz pós-graduado em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. P.S. Acho que o texto, na linha dos muitos outros já escritos pelo autor, revela um sério problema dos descaminhos juazeirenses: a presunção intelectual expressa em argumentações e reflexões muito rasas....superficiais...é triste.
23 de Mar / 2015 às 15h25
Deves morar em outro planeta, "MANIFESTAÇÃO SEM ATRELAMENTO A PARTIDOS" Louve-se, devias estar sonhando e quando fala em" Refundação Radical do Brasil e sua República", quer recomeçar por onde? Deodoro???
23 de Mar / 2015 às 15h38
Seu Castro, é porque o senhor não viu ainda um texto do tal de Otoniel Gondim. Pense num angú!
23 de Mar / 2015 às 22h03
Respeito muito os textos do Sr. Agenor, bem como os textos do superpolêmico professor Otoniel Gondim. Cada um na sua, são impressionantes. por incrível que seja, leio os dois escritores com a mesma adm iração. Passe sua imbecil recalcada Mariana menezes!