Onde foi que tudo se rompeu?
Em que curva da história deixamos para trás os alicerces que sustentavam a dignidade, a honra, o amor, a maternidade, a verdade? Em que momento trocamos a essência pela aparência, o sagrado pelo superficial, o bem comum pela exaltação do ego?
Vivemos dias sombrios. Dias em que o mérito virou ofensa, em que a verdade se curva à conveniência ideológica, em que a maternidade é tratada como obstáculo, e a família, célula mãe da sociedade, como uma construção opressora.
Mas onde foi que tudo desandou?
Fala-se em dívida histórica, em culpa eterna, em compensações. Mas a verdade, nua e crua, é que a escravidão foi uma tragédia da humanidade — não de uma raça, não de um povo, mas da espécie humana. Hebreus foram escravizados. Africanos, indígenas e até mesmo europeus brancos foram aprisionados, vendidos, humilhados.
A escravidão é uma mácula universal, não um cheque a ser pago pelas gerações que sequer a viveram.
Fazer da dor passada uma nova forma de segregação é perpetuar o ciclo de ódio — é cavar ainda mais o abismo entre as pessoas.
E a mulher? A mulher, outrora honrada como fonte da vida, do equilíbrio, da sabedoria emocional, foi empurrada para uma lógica brutal de competição com o homem — e não de complementaridade.
Em nome de uma "libertação", muitos arrancaram-lhe a alma: forçaram-na a deixar o colo, o lar, o útero de sua potência criadora para caber em moldes que não foram feitos para sua natureza.
Hoje, vemos o abandono da maternidade em nome de carreiras que muitas vezes nem alimentam a alma. Vemos mulheres exaustas, adoecidas, emocionalmente esgotadas... e ainda assim cobradas a se provar o tempo todo.
Vivemos tempos em que bebês de plástico, as chamadas reborns, são tratados como filhos; onde animais se tornaram "filhos", enquanto crianças reais, de carne e osso, são descartadas, abortadas, ignoradas, invisibilizadas.
O amor virou performance. O afeto virou curtida.
E a família?
Desconstruída. Desfigurada. Hoje se tenta impor que a exceção vire regra. Que o laço biológico, espiritual e civilizador seja relativizado em nome de "novas estruturas". Mas não se constrói uma sociedade saudável sobre ruínas morais.
Hoje, os filhos não ouvem mais os pais. Os jovens não reverenciam mais os mestres. Os valores estão sendo ensinados por influenciadores digitais que não têm um pingo de vivência, de dor enfrentada, de sabedoria conquistada.
Celebramos a futilidade, enquanto ignoramos o verdadeiro heroísmo anônimo dos que constroem lares, educam filhos, sustentam com suor e renúncia a esperança de uma sociedade melhor.
Vivemos a cultura do "sete dias": aprenda tudo rápido, viva tudo agora, mas não aprofunde nada.
Não se fala mais em caráter, em sacrifício, em transcendência.
Vivemos o tempo das selfies e dos vazios. O tempo do "eu sou o que os outros veem".
Perdemos a alma tentando mostrar um corpo.
E onde está a espiritualidade?
Enterrada sob o peso do sarcasmo, da dúvida agressiva, da idolatria da razão.
Mas sem espírito, o homem é só carne — e carne apodrece.
Chegamos ao ponto em que as pessoas exigem que o Estado cuide de bonecos como se fossem bebês. Chegamos à insanidade de preferir a companhia de telas à companhia de gente.
Chegamos à geração que fala de amor, mas não sabe perdoar. Que prega liberdade, mas vive prisioneira do próprio ego.
Onde foi que nos perdemos?
A resposta talvez esteja em cada um de nós.
No instante em que abandonamos o essencial e passamos a adorar o descartável.
No momento em que trocaram o "ser" pelo "parecer", e o "nós" pelo "eu".
Mas ainda há tempo.
É preciso acordar. É preciso reconstruir.
É preciso reencontrar o caminho. Voltar ao lar interior. Reerguer a dignidade da família. Resgatar o sentido da maternidade. Curar os homens e mulheres feridos por narrativas rasas e ideologias suicidas.
Porque só haverá futuro se houver raiz. E só haverá esperança se voltarmos a amar o que é verdadeiro.
Rivelino Liberalino
Bel. Rivelino Liberalino OAB/PE 534/B - advogado militante nas áreas cível e trabalhista, pós graduado em Direito Tributário pelo IBPEX- Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão.
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