Por que a reparação à população negra continua necessária? Essa foi a questão central do 1º Simpósio sobre Questão Racial, realizado na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), entre os dias 13 e 15 de maio de 2025. Com o apoio do vereador Professor Gilmar Santos-PT, o evento foi promovido pelo Observatório de Políticas Afirmativas Raciais (Opará), em parceria com a Reitoria da Univasf e a Seção Sindical dos Docentes da Univasf (Sindunivasf).
Reunindo especialistas de diversas regiões do país, o simpósio debateu e propôs políticas de reparação histórica, com foco em ações afirmativas e na implementação de cotas no serviço público. A programação foi direcionada a gestores públicos, estudantes, professores/as, pesquisadores/as, representantes da sociedade civil e dos movimentos sociais antirracistas. O evento se consolidou como um espaço de luta, reconhecimento e construção coletiva de caminhos para a igualdade racial em Petrolina e no Brasil.
A coordenadora do evento, Ana Luísa Oliveira, destacou a importância da parceria com o Mandato Coletivo representado pelo Professor Gilmar, para aproximar o debate da realidade local. “O Mandato contribuiu também com a discussão sobre o nosso Estatuto da Igualdade Racial, aqui de Petrolina, trazendo um panorama dos desafios para pensar políticas públicas e reparação no âmbito municipal, o que é importante para contextualizar o debate aqui no Vale do São Francisco”, ressaltou.
Na manhã do dia 14, o professor Gilmar participou da mesa-redonda “Eficácia na implementação e reparação das vagas da Lei nº 12.990/2014 e outras ações afirmativas”. Durante a exposição, foram discutidos os desafios na execução da reserva de vagas para pessoas negras em concursos públicos federais, bem como estratégias para fiscalizar e garantir a efetivação desses direitos.
Durante sua participação, o vereador, que é autor do Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa de Petrolina, o primeiro aprovado no estado de
Pernambuco, reafirmou o compromisso do Mandato Coletivo com a luta antirracista e a construção de políticas públicas voltadas à população negra. “Nosso mandato segue firme na defesa da democracia, da justiça racial e da reparação histórica. É preciso que o poder público municipal, em todas as esferas, assuma essa responsabilidade. Quero parabenizar o Observatório Opará pela realização do simpósio, que se consolida como um espaço fundamental para o fortalecimento do debate e da mobilização por direitos”, destacou Gilmar.
Para Marina Helena Costa, psicóloga e pesquisadora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), as ações afirmativas são fundamentais para garantir o acesso da população negra ao ensino superior e fortalecer vínculos dentro da universidade. “É um espaço em disputa, que tem conflitos, mas onde conseguimos nos aquilombar, nos reconhecer e construir vínculos muito importantes, que vão além da comunicação entre áreas ou da produção de conhecimento científico e acadêmico”, destacou.
Inês Eugênia, estudante de Jornalismo, reforçou a importância das políticas de cotas para o acesso e a permanência de pessoas negras na universidade. “Como mulher negra e cotista, entendo o quanto essas políticas foram fundamentais para que eu pudesse ingressar no ensino superior, realizar minha formação e me preparar para o mercado de trabalho.
Participando do simpósio, vi que em outras universidades isso nem sempre acontece. Por isso, é essencial garantir que mais pessoas tenham o mesmo acesso que eu tive”, afirmou. Além das palestras e mesas-redondas, a programação contou com a apresentação de trabalhos científicos, cursos voltados à promoção da igualdade racial, trocas de experiências, feira cultural e atrações artísticas.
A abertura do simpósio foi marcada por uma homenagem à artesã Ana das Carrancas, que recebeu o título de Doutora Honoris Causa In Memoriam, a maior honraria concedida pela Univasf, em reconhecimento à sua contribuição cultural para o semiárido brasileiro. Nesta primeira edição do simpósio, representantes de entidades públicas e privadas de todo o país se mobilizaram com o objetivo comum de refletir e propor caminhos concretos para a
reparação histórica da população negra no Brasil.
Ao reunir diferentes setores da sociedade, o Observatório de Políticas Afirmativas Raciais (Opará) e o Mandaro Coletivo reafirmam o compromisso coletivo com a construção de um futuro pautado na justiça social, no enfrentamento ao racismo estrutural e na garantia de uma igualdade racial que atenda, de fato, às necessidades e aos direitos do povo negro.
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