Artigo: A Santa Sanfona hoje tá chorando ali no canto

Foi com muita tristeza que recebi a notícia da morte do amigo Wanderlei do Nordeste. Menino bom, divertido, tocava como poucos e sorria como ninguém. Mesmo nos momentos mais difíceis, tinha uma “gaitada”, engatilhada para desarmar a tristeza de quem o cercasse.

O entrevistei muitas vezes. Numa Conversa de Pé de Balcão revelava as agruras da vida como se estivesse contando uma anedota, sinal de felicidade plena, pra ele e pra quem o ouvia. 

Era assim quando contava como teve os primeiros contatos escondidos na sanfona do pai, com a promessa de levar uma “peia” se não tocasse ao ser descoberto; a primeira sanfona que ganhou de um conterrâneo e fã, ou a vinda para Juazeiro, sem lenço e sem dinheiro. Mesmo quando revelava a saga da luta contra um câncer, que acreditava ter vencido com a ajuda da ciência, mas principalmente pela fé, era de um forma tão leve, que juntava lágrimas e risadas na mesma conversa. Esse era Wanderlei do Nordeste, o menino cantor e o sanfoneiro mais feliz que Deus criou. Onde estiver, não tenho dúvidas: estará sorrindo!

Num evento de agradecimento que ele fez, por volta de 2016, numa barca, em Juazeiro, dediquei a ele um poema, que intitulei de Santa Sanfona. Compartilho:

Santa Sanfona

A amiga sanfona
Abandonada ali no canto.
É que meu canto
Tá calado por enquanto
Não desencanto
E me encanto olhando ela
Sanfona bela,
Tou sentindo que é assim
Eu com saudades dela
E ela, com saudades de mim.

Seu dotô,
Eu acredito que é assim
Não é agora, a minha hora, o meu fim
Senhor do Bomfim,
Santa Rosa, rosa bela
Ele e ela Intercedendo por mim.
Não desencanto
E não há pranto, vendo ela
A Sanfona bela,
Lá do canto, é assim
Eu com saudades dela
E ela, orando por mim. 

Da família veio o afago
Carinho, compreensão
Meu amor, minha paixão
Cuidou bem do meu jardim.
Aos amigos agradeço
A amizade sem fim,
Cada um do seu jeito
Foi meu anjo querubim
Mas por Deus, não vou a lona
 Porque a santa sanfona
Tá esperando por mim.

Hoje, é saudades, sem fim e a Santa Sanfona tá chorando ali no canto.

Wilson Duarte