Artigo - Relacionamentos virtuais podem ser portas para armadilhas

Afinal de contas, os aplicativos de relacionamento diminuem a autoestima dos usuários, ou o efeito é justamente o contrário?

Luli Radfahrer responde que o aplicativo é uma rede social como qualquer outra, “você começa a ver aquelas fotos perfeitas, de pessoas perfeitas, e você obviamente começa a se comparar com elas e você começa a ver que você não é tão perfeito assim. Além de tudo, mesmo que você encontre uma pessoa que seja muito legal para você, o príncipe encantado pode estar na próxima pessoa.

Então, você acaba gerando uma relação de consumo com o relacionamento, em que o indivíduo está tentando consumir alguma coisa, está tentando consumir um estilo de vida. E isso acaba gerando uma coisa que tem efeitos muito daninhos. É muito importante pensar que você não pode ter uma cobrança irreal, você não pode ter uma insatisfação. Na mídia de relacionamento, todo mundo está maquiado, todo mundo está usando aplique e todo mundo está usando alguma espécie de implante para ficar mais ‘lindão’, sem falar do Photoshop”.

Um outro aspecto importante lembrado por ele tem a ver com os golpes e sequestros relâmpagos, aos quais estão expostos quem faz uso dos aplicativos de relacionamento.

“A gente tem que tomar cuidado com o que compartilha, a gente tem que ser cauteloso com o desconhecido. Por mais que você adore exibir o seu gramado novo, você tem que tomar cuidado para não expor demais a sua vida pessoal. É claro que a gente não pode culpar a vítima, mas um pouco de noção é bom. Para o ladrão, esse é o melhor caminho para entrar. Então é muito importante você desenvolver um senso crítico com relação tanto às coisas que você mostra quanto às pessoas que você conhece. Se você acha que tirou a sorte grande, que encontrou o príncipe encantado, lindo, rico, 30 anos mais jovem que você, tenha quase certeza que é um golpe.”

Para Radfahrer, é importante entender que a tecnologia é complemento, não substituto da interação. “Você pode até conhecer uma pessoa através de um aplicativo de relacionamento, não tem nada de errado nisso, mas aí, aos poucos, primeiro através do aplicativo, depois da troca de número de telefones você vai falando com essa pessoa regularmente por videochamadas, você vai mandando mensagens significativas, ‘oi, como é que você está?, faz um dois dias que a gente não se fala etc.’ Você tenta, sempre que possível, criar oportunidades para encontros pessoais.”

“Aquela ideia predatória do aplicativo de relacionamento de que eu vou lá para pegar todo mundo é o melhor lugar em que você pode se dar muito mal. Então, o que a gente tem que fazer? A gente pode usar esse aplicativo de relacionamento como uma porta de entrada, mas precisa estabelecer limite saudável para o uso de tecnologia. É muito importante priorizar uma conversa presencial e, aos poucos, se você encontra a pessoa um mês depois ou dois meses depois que você viu a pessoa no aplicativo de mídia social, provavelmente essa relação tende a ser muito mais verdadeira, porque você já conhece bem essa pessoa, você só não a viu fisicamente”, pondera o colunista.

Luli Radfahrer-Professor de Comunicação Digital da Escola de Comunicações e Artes da USP. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do País.