Luto materno: Quando o colo que acolhe precisa de acolhimento

Perder um filho é uma ruptura que desorganiza tudo. Desestrutura o tempo, desorienta os sentidos, transforma o cotidiano em silêncio.

O luto materno é uma das experiências mais dolorosas que alguém pode atravessar — e, ao mesmo tempo, uma das mais invisibilizadas pela sociedade.

Essa dor não tem prazo. Não se trata de “superar”, “seguir em frente” ou “voltar ao normal”. A mulher que perde um filho não deixa de ser mãe — ela segue sendo, mas agora de um modo profundamente diferente. Como dizem os especialistas, o luto materno pode afetar a identidade, o corpo e até o lugar que a pessoa ocupa no mundo.

Chorar, lembrar, silenciar, se afastar, buscar espiritualidade, falar repetidamente sobre o que aconteceu, contar vivências diversas com o filho — tudo isso pode fazer parte do processo de luto. E nenhuma dessas formas é errada. Cada mãe encontra seus próprios caminhos para ressignificar a dor. O que ela mais precisa é de espaço seguro para sentir, ser ouvida e ser acolhida.

Se você está vivendo essa dor, saiba que ela merece respeito. Seu amor não terminou com a ausência física. E sua forma de viver o luto é legítima — seja ela qual for, pois como diz Rodrigo Luz (2021), "luto é outra palavra para falar de amor".

Se você convive com uma mãe enlutada, evite frases como “você precisa ser forte” ou “Deus sabe o que faz”. Ofereça presença real, sem julgamento. Muitas vezes, o mais importante não é o que se diz, mas o simples fato de estar ali, com escuta, paciência e cuidado. Convide para uma caminhada, compartilhe uma memória bonita do filho ou apenas diga: “estou aqui”. E se não souber o que fazer, tudo bem — pergunte o que ela precisa naquele momento.

O colo que sempre acolheu agora também precisa de acolhimento.
Fontes: Worden (2013), Parkes (1998), Luz (2021), entre outras.

Daniela Coelho Andrade-Psicologia Clínica. Especialisa Logoterapia e Análise Existencial