Artigo: A fidelidade posta em contraste

Já faz alguns anos que eu e minha esposa adotamos um casal de cães de rua. Chegaram doentes, magros, cuidamos deles. E com eles temos aprendido muito! A fidelidade dos animais parece nascer de algo que não precisa ser explicado.

Eles ficam, sem pedir nada em troca, e a sua presença nos traz uma quietude reconfortante. Um simples olhar é o suficiente para transmitir tudo o que eles sentem por nós, e esse amor é constante, sem condições ou expectativas. O cão, por exemplo, não precisa de palavras para expressar a sua lealdade.

Ele fica ao nosso lado, não porque espera algo, mas porque sua presença é, para ele, uma forma de estar no mundo. Mesmo com o passar dos anos, a fidelidade segue inabalada, como a confiança silenciosa que só quem ama sabe oferecer.

Já a fidelidade humana é mais difícil de compreender. O ser humano, com suas complexas emoções e vontades, muitas vezes falham onde os animais não falham. A ingratidão, mesmo que disfarçada de silêncio ou distanciamento, dói de maneira profunda. Quando aqueles a quem dedicamos tempo, carinho e apoio, se afastam ou mesmo esquecem de quem os ajudou, o vazio que fica é muito maior e amargo que a simples ausência. O mais difícil de lidar não é a falta da presença, mas sim a sensação de ser deixado para trás, de sermos esquecidos por aqueles que um dia estiveram ao nosso lado. E a força dessa dor de ingratidão se carrega, muitas vezes, silenciosamente, com o peso de algo que não se pode facilmente entender e aceitar.

No entanto, mesmo quando nós somos tomados pela tristeza ou pela sensação de traição, existe uma escolha: manter o rancor ou seguir em frente. O rancor, com seu sabor amargo, nos dá uma falsa sensação de ter controle, como se nos tornássemos mais fortes ao guardar a dor. Mas, no fundo, ele apenas nos impede de seguir. E é possível se perceber que, ao deixar ir a mágoa, nos tornamos mais inteiros, mais completos. E uma verdadeira fidelidade não exige nada em troca, nem reconhecimento. Ela está na nossa capacidade de escolher não nos prender às ofensas, mas de olhar para frente com serenidade. Em vez de nos perdermos no que foi, podemos escolher o que seremos daqui em diante. A escolha é nossa.

Por mais que a ingratidão nos fira, ela também nos ensina algo precioso: a importância de sermos fiéis a nós mesmos, a nossa paz interior. Podemos aprender a cultivar em nós uma lealdade que não depende dos outros, mas sim da nossa própria capacidade de prosseguirmos, de aprendermos e cresceremos. Ao escolher essa fidelidade bem silenciosa, como a dos animais, somos capazes de seguir em frente, mais fortes, mais sábios e, quem sabe, mais preparados para o que vem pela frente. E, ao fazer isso, encontramos algo ainda mais valioso: a capacidade de sermos melhores a cada dia. E isso  independentemente das feridas geradas no passado. Ser feliz é somente uma questão de escolha mental, emocional e espiritual. O que você escolhe?

Por Pastor Teobaldo - Pastor evangélico há 30 anos, com formação em Teologia, Psicanálise Clínica, E