Os passos são apressados. A batina vermelha e o solidéu sobre a cabeça, de mesma cor, denunciam: há um cardeal à vista. Logo, um batalhão de jornalistas se aglomera em torno do chamado "príncipe da Igreja Católica".
Aqueles com menos de 80 anos, eleitores no conclave que começará na próxima semana, irrompem em meio aos repórteres, quase sempre sem dizerem uma só palavra.
"Vocês sabem que não posso falar", responde ao Correio Dom Arlindo Gomes Furtado, 75, o único cardeal de Cabo Verde, a quem a reportagem entrevistou, em 25 de maio, ao encontrá-lo no aeroporto de Lisboa, durante a conexão para Roma. Também único representante do Sudão do Sul, Dom Stephen Ameyu Martin Mulla, 61, reage: "Não estamos falando sobre o conclave".
Ao ser questionado pelo Correio sobre se a Igreja está unificada em torno do legado do papa Francisco, ele respondeu: "Sim, juntos, todos". Os 133 eleitores com poder de voto fizeram um pacto de silêncio. Isso inclui os sete brasileiros aptos à escolha no conclave, cujos preparativos foram intensificados.
Em meio à movimentação dos cardeais, os preparativos para o conclave seguem. Ontem pela manhã, a chaminé que avisará ao mundo sobre a eleição do sucessor de Francisco foi instalada no telhado da Capela Sistina, sob os olhares atentos e curiosos de fiéis e turistas.
De 9h às 12h30 de ontem no horário de Roma (4h e 7h30 em Brasília), 180 dos 225 cardeais que compõem o Colégio Cardinalício, entre eles 120 eleitores, voltaram a se reunir nas congregações gerais — encontros em que aproveitam para conhecer uns aos outros e debater os desafios da Igreja Católica —, depois de um feriado do Dia do Trabalho marcado por orações e meditação. Os purpurados reconheceram que a evangelização foi o coração do pontificado de Francisco. Também admitiram preocupação com a situação da Igreja Católica em países do leste, ante a perda de fiéis.
Dom Gregorio Rosa Chávez, cardeal de El Salvador e não eleitor, admitiu ao Correio que o conclave da próxima semana será "totalmente diferente". "Algo que nunca foi imaginado", disse, ao citar que Francisco nomeou cardeais em vários países periféricos. Ele espera um conclave rápido. "Acho que em dois ou três dias ele terá terminado. Se eu me enganar, pode me pedir uma pizza", brincou, entre sorrisos.
Ao ser perguntado sobre de qual região crê que sairá o novo pontífice, disse que será "surpresa". "Tudo pode acontecer." O cardeal colombiano Jorge Enrique Jiménez Carvajal comentou que a Concílio Vaticano II abriu um novo diálogo com o mundo. "A Igreja começou a abordar uma nova sociedade, uma nova época, um novo modo de viver. Por isso, a Igreja tem que priorizar o diálogo."
Para Dom Carvajal, a duração do conclave deste ano é "imprevisível". "No entanto, os últimos conclaves têm sido de dois a três dias. É muito provável que se siga a mesma linha, mas ninguém pode cravar isso", admitiu. O colombiano tem esperança de que a Igreja siga o caminho trilhado por Francisco. "O papa Francisco marcou o mundo. Marcou a sociedade."
Entre os jornalistas que cobrem o Vaticano, a sensação é de uma votação rápida. Uma delas afirmou acreditar que as articulações dos cardeais permitirão que entrem na Capela Sistina, na quarta-feira, para escolherem o papa entre apenas dois ou três nomes.
Ainda no primeiro dia de conclave, a fumaça escura ou branca será liberada por volta das 19h (14h em Brasília). Caso os cardeais não cheguem a um nome de consenso com dois terços dos votos (89 dos 133), haverá duas votações na manhã de quinta-feira, com a emissão da fumaça ao meio-dia (7h em Brasília), e duas pela tarde, com a fumaça saindo às 19h.
Correio Braziliense
0 comentários