Autor da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os desfalques nas aposentadorias e pensões de beneficiários do INSS, o deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO) considera que a permanência de Carlos Lupi à frente do Ministério da Previdência é insustentável. Primeiramente, porque ele admitiu, em depoimento na Câmara, na terça-feira, que tinha conhecimento das fraudes desde 2023.
E, em segundo lugar, porque, caso permaneça à frente da pasta, terá condições de interferir nas investigações da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da República (PGR). Nesta entrevista ao Podcast do Correio, Chrisóstomo defende que a CPI seja na Câmara e afirma que tem apoio até mesmo de deputados que não são de oposição.
Não é a primeira vez que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, protagoniza um impasse político em decorrência de escândalo de corrupção em pasta sob seu comando. Quando era ministro do Trabalho no governo Dilma Rousseff, também resistiu muito a deixar o cargo, chegando a afirmar que só sairia do ministério "abatido à bala". Convocado a prestar esclarecimentos na Câmara, em novembro de 2011, na tentativa de permanecer no ministério, Lupi pediu desculpas: "Eu gosto de fazer o debate, às vezes exagero. Peço desculpas públicas. Presidente Dilma, me desculpe, eu te amo", disse.
Confira reportagem concedida ao Correio Braziliense:
Como foi o processo para conseguir as assinaturas necessárias para a CPI do INSS? E qual a percepção de apoio entre os deputados?
A instalação da CPI começou na quarta-feira da semana passada. Eu criei e pedi o requerimento para a criação. Tudo começou porque ouvi muitas denúncias. Estava em Rondônia e, ao meu lado, tinha um prefeito que disse que estava sendo roubado. Foi quando tive a ideia de criar uma CPI. Hoje, ela está na fila da Câmara dos Deputados, em 12º lugar. Mas acredito que o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) fará uma análise muito simples, porque o Nordeste, a região que ele representa, acumula 60% dos casos envolvendo essas fraudes. O Piauí, por exemplo, é o estado em que mais roubaram dos aposentados. Em seguida é a Paraíba, estado do presidente Motta. Finalizo com uma pergunta: será que o presidente não vai cuidar dos aposentados e pensionistas dele com essa CPI? Acredito que deve, sim, fazer isso.
Dada a escala da fraude no INSS, que afetou milhões de pessoas, como o senhor acredita que a CPI deveria ser organizada, especialmente em relação aos depoimentos?
Conseguimos 185 assinaturas. Inicialmente, reconhecemos 171 em tempo recorde. Tenho todo o aval para me tornar o presidente (da CPI) e convocar qualquer autoridade que esteja envolvida. Eu, sendo o presidente, com certeza eu vou chamar o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi. Ainda mais porque ele chegou a declarar, na Câmara, que sabia dos roubos desde 2023. Deixou claro que, nessa época, o roubo cresceu exponencialmente, chegando a quase R$ 2 bilhões — em 2024 foi a quase R$ 4 bilhões. Mas, mesmo o ministro sabendo do que estava acontecendo, foi omisso, foi irresponsável e conivente com o roubo. Teve conhecimento e nada fez.
No Senado, esse tema também vem ganhando proporção. Tem-se comentado sobre a possibilidade de uma comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI). Como o senhor analisa esse movimento, apesar de o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), declarar que gostaria de seguir com sua CPI?
Fiquei até grato ao Sóstenes, ele viu o sacrifício, que fiquei sem dormir e correndo atrás. Mas não é pelo meu sacrifício esse mérito. É pelo que apresentei ao Brasil, pelos meios de comunicação, o que fizeram contra os aposentados e pensionistas. E a nossa [Comissão] já está pronta. Fora que provei que tem muitos parlamentares, mesmo da centro-esquerda, que são favoráveis à CPI. É só uma questão de vontade e o presidente Hugo Motta achar uma forma de pautar. Outra coisa: onde é que está o povo? Está no Senado ou na Câmara? Na Câmara. Quem representa o povo? Os deputados federais. A Câmara dos Deputados é onde pega fogo. Por isso é que o Sóstenes está querendo que a minha CPI seja pautada.
A oposição tem ligado o escândalo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto a base governista aponta que o esquema começou no governo de Jair Bolsonaro. O senhor acredita que isso pode prejudicar a imagem do ex-presidente?
Primeiro que eles não conseguem deixar de falar no nome do Bolsonaro. Acho que eles amam o Bolsonaro. Fora que isso está acontecendo desde 2016. No governo do (ex-presidente Michel) Temer, havia esses descontos via sindicatos. O Bolsonaro odeia sindicatos. Ele não gostava que tivessem os descontos. Como os desvios vinham do governo passado, isso estava dentro do INSS, só que em um patamar bem menor do que está hoje. Sem contar que um dos sindicatos (investigados) tem como dirigente o irmão do Lula, conhecido como Frei Chico. O sindicato estava dentro do governo Bolsonaro porque vinha lá de trás, entendeu? E Bolsonaro, ao perceber algo de errado, criou a Medida Provisória (MP) 871/19 para vigiar, tomar todas as providências dentro do INSS. Em 2023 e 2024, eles (o governo Lula) afundaram o pé e os descontos cresceram exponencialmente em cima dos aposentados. O foco é em cima deles e estão querendo jogar (a culpa) para o Bolsonaro.
A base governista também vem associando o escândalo ao ex-presidente Jair Bolsonaro, pois o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, apontado pela Polícia Federal (PF), é um dos principais lobistas nesse esquema. Antunes chegou a doar uma quantia simbólica de R$ 1 para a campanha de Bolsonaro, em 2022. O senhor acha que isso pode, de alguma forma, manchar a imagem do ex-presidente?
O Bolsonaro nada tem a ver com isso. Tanto, que, quando ele criou a MP, em 2019, disse que queria que investigassem tudo o que fosse possível. E um dado importante é que esse governo é de um ex-presidiário. Eles estão dizendo que estão investigando, que colocaram a Polícia Federal para investigar. Mas será que eles são donos da Polícia Federal? Eles estão dizendo isso, mas a Polícia Federal é uma instituição independente e está investigando junto com a Controladoria-Geral da União (CGU) porque tinha falcatruas ali, havia indícios. Não é o governo que está pedindo para a Polícia Federal, é a PF exercendo seu trabalho independente. O governo tenta dizer que são eles, mas são uns mentirosos.
Na mensagem em homenagem ao Dia do Trabalhador, o presidente Lula exigiu que os órgãos de fiscalização investigassem todos aqueles ligados às fraudes. E durante a coletiva, o senhor e os outros parlamentares da oposição chegaram a pedir a demissão do Lupi. O senhor acredita que essa demissão pode, de fato, acontecer?
É inadmissível um ministro que declarou, publicamente, que tinha conhecimento dos roubos desde 2023, quando assumiu o ministério e nada fez. Foi omisso, totalmente irresponsável. Um homem público, quando tem um poder de chefia, tem que agir dentro do órgão. Se ele não age, comete uma irresponsabilidade muito grande. E omissão é um mal muito elevado na esfera da Justiça. Ele fez isso. Ser omisso também é ser responsável pelo crime. Se Lupi sabia, tinha que tomar providências. Portanto, ele está na cadeira de ministro sem ter a condição de ficar. Por isso tem de sair.
Correio Braziliense Foto reprodução
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