Existem momentos em que, subitamente, tudo ao redor parece perder o sentido. O que antes era claro torna-se turvo, como se uma densa névoa envolvesse a alma, e o chão que sustentava os passos cedesse a alguma força invisível e muito opressora.
É como se todas as nossas certezas que traziam equilíbrio desabassem juntas e inesperadamente.
A mente se confunde, os sentimentos se atropelam, e toda a nossa vida, antes tão organizada, está se despedaçando em múltiplos fragmentos, difíceis para os compreender ou recompor. E, mediante esse colapso interno, surgem perguntas silenciosas e profundas: o que aconteceu? Onde me perdi? Qual a direção que devo tomar agora?
É aí que descobrimos o quanto nós somos mais do que apenas corpo. E que nossas emoções não vivem à parte de uma plena espiritualidade real. Aquilo que sentimos, mesmo quando não compreendemos, torna-se algo revelador. Em meio a esse caos, quando tudo nos parece prestes a se desconstruir, existe uma voz silenciosa que ainda sussurra. E não é para nos acusar, mas para nos chamar de volta ao centro. Ela nos diz que a dor não é o fim, e que uma quebra, seja do que for, não é abandono, a menos que insistamos ver assim. Às vezes, o que nós julgamos ser o nosso fim é, na verdade, o início de algo novo e grandioso que só poderia nascer das ruínas. Um novo ciclo só se iniciará quando outro se fecha. Sempre foi, e é assim, que a vida avança.
Quando tudo nos parece estar arrumado demais, é fácil confiar em nossas forças. Contudo, e quando tudo sai do lugar? É aí que somos desafiados a confiar e depender do Deus que vê o todo, mesmo quando nós só enxergamos fragmentos. Ele permite certos abalos não por crueldade ou sadismo, mas sim por causa da Sua misericórdia. Isso mesmo. Ele nos conhece melhor até do que nós mesmos e sabe como usar uma crise para extrair de nós aquilo que jamais viria à tona sem passarmos pela experiência da dor. Não se trata de punição, mas sim de um novo processo. Um cuja meta é nos moldar à imagem dAquele que se entregou por amor, colocando o propósito acima de todo os seus sentimentos e Sua obediência a quem O enviou acima da própria vontade. Isso exige coragem!
Há momentos em que a alma se cala, não por desistência, mas por rendição. E ali, no silêncio de um coração despido de qualquer pretensão, começa a acontecer o renascimento de alguém bem mais forte, mais sensível, muito mais consciente. Deus não se apressa, mas nunca se atrasa. E mesmo quando tudo parece ruir, o Eterno continuará escrevendo histórias, cheias de esperança.
Por Pastor Teobaldo - Pastor evangélico há 30 anos, com formação em Teologia, Psicanálise Clínica.
1 comentário
22 de Apr / 2025 às 06h54
Excelente reflexão, tudo se renova, ainda que sejamos incapazes de perceber. Mas como disse Lula. Nada do que foi será, de um jeito que já foi um dia. Tudo passa.