Beneficiamento do umbu diversifica renda e fortalece tradições

Conservação do meio ambiente; fortalecimento da cultura popular, tradição e coletividade; diversificação da renda e redução de desperdício. Esses são alguns dos impactos positivos do beneficiamento de frutas da Caatinga que contribuem para a Agroecologia e a Convivência com o Semiárido.

A partir dessa compreensão, até o final do mês de março, serão realizadas oficinas práticas de beneficiamento do umbu em 15 comunidades rurais dos municípios de Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Sento Sé e Sobradinho, contando com a participação de aproximadamente 250 agricultoras/es familiares.

O coordenador do projeto Ater Bioma Caatinga no Irpaa, Alessandro Santana, destaca que essas oficinas podem contribuir significativamente com a renda das agricultoras familiares. “A transformação do umbu em produtos como polpas, doces, geleias e licores agrega valor ao fruto e permite também melhores oportunidades de comercialização”. Essa prática ainda reduz o desperdício, como reforça Alessandro: “Como o umbu tem um ciclo de maturação rápida, muitos frutos podem se perder, se não forem processados a tempo, no período de dezembro a março. Assim, o beneficiamento permite que ele seja armazenado e consumido ao longo do ano”. Assim, essas práticas também promovem a segurança alimentar e nutricional das famílias agricultoras.

Nesse processo, outro fator fundamental que precisa ser destacado é o fortalecimento da cultura popular e da identidade local, pois o beneficiamento do umbu, fruto típico da caatinga, promove a valorização dos saberes tradicionais. “Através do beneficiamento, mantemos viva a arte da culinária, a arte de fazer os doces, fazer as geleias. E essa arte, muito das vezes, que nós já temos algum pouco do conhecimento que foi trazido pela nossa mãe, pelas nossas avós, pelas nossas tias; e assim a gente continua mantendo viva essa tradição dessa arte de culinária, da arte de beneficiar os produtos, não só os produtos da caatinga, como também outras frutas que temos no quintal, na roça”, destaca, orgulhosa, a agricultora Nad'ja Ivana Gomes, do Assentamento Vale da Conquista, em Sobradinho.

Práticas como essa possibilitam novos aprendizados, troca de conhecimentos e saberes entre os/as técnicos/as e os/as agricultores/as. Também é um momento para abordar questões relacionadas às práticas de higiene e manipulação de alimentos, discussão essencial para que as famílias possam investir na produção e comercialização de produtos derivados do umbu. Alessandro destaca ainda que essas oficinas podem “fortalecer o protagonismo de mulheres e jovens no setor produtivo, a partir do extrativismo vegetal, principalmente, nesse período em que a fruta é muito abundante”.

A agricultora Maria Isabel Andrade, integrante da Associação Comunitária de Fundo de Pasto Barra Cacimbinha, em Casa Nova, participou da oficina de beneficiamento do umbu e da acerola. Ela enfatiza que, com os aprendizados, vai potencializar as produções. “Como comunidade de Fundo de Pasto, a gente chega à conclusão que vamos sim colocar em prática o beneficiamento com as nossas frutas”.

Já a agricultora Amanda Carolina, da comunidade Caracol, em Casa Nova, reforça: “nós aqui do interior, não estávamos sabendo dar valor aos benefícios que nós temos, de grande riqueza, como umbu e acerola. Pretendo seguir em frente, tentar fazer aqui na comunidade”.

Outro aspecto relacionado a essas atividades é que elas também contribuem para a valorização da Caatinga em pé. Inclusive, evidenciar a importância do umbu está diretamente ligada à discussão da conservação do umbuzeiro e das plantas da Caatinga, para que elas continuem dando frutos, provendo a Convivência com o Semiárido.

Oportunizar oficinas como esta contribuem para alcançar os objetivos do projeto Ater Bioma Caatinga, como: sensibilizar os/as agricultores familiares à execução de práticas de manejo e conservação dos bens naturais alinhadas à Agroecologia e Convivência com o Semiárido; melhorar a segurança alimentar e nutricional; e aumentar a renda média das famílias assessoradas.

Nesse sentido, a agricultora Ivana conta ainda que o beneficiamento pode ser uma outra fonte de renda para famílias rurais. “E a partir do momento que a comunidade gera uma nova fonte de renda, a comunidade mostra mais uma visibilidade para a sociedade e, principalmente, se esses produtos forem produzidos por mulheres, onde na maioria das vezes são as mulheres que têm o interesse de estar participando. Eu acredito que o beneficiamento agrega tanto valor cultural quanto valor econômico”.

Dentre as diversas ações da Ater Bioma Caatinga estão as visitas técnicas de orientação às famílias, com temáticas variadas a partir da realidade e necessidade de cada uma, como por exemplo: criação de caprinos, roçados, quintais produtivos e extrativismo. Nos próximos meses, o projeto vai realizar também oficinas sobre as cadernetas agroecológicas, uma ferramenta que as agricultoras familiares utilizam para registrar informações das atividades realizadas no agroecossistema, com o intuito de dar visibilidade ao trabalho desempenhado pela mulher. Ação que contribui na gestão da produção, consumo, venda e doação da produção com foco nas práticas agroecológicas.

O Irpaa executa o projeto ATER Bioma Caatinga nos municípios de Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Sento Sé e Sobradinho, atendendo 1.080 famílias. As ações são financiadas pelo Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e Bahiater.

 

Texto: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa