O professor Cleyton de Almeida Araújo, do Colegiado de Zootecnia da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), recebeu o Prêmio de Melhor Tese da Sociedade Nordestina de Produção Animal (SNPA) pelo trabalho "Cultivo da palma forrageira em sistemas biossalinos: características edáficas, morfoprodutivas, nutricionais e fluxos de gases do efeito estufa".
A tese de doutorado foi realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCA) da Univasf. A entrega do prêmio ocorreu na noite do dia 27, durante a sessão solene de abertura do XVIII Congresso Nordestino de Produção Animal (CNPA), em Aracaju (SE).
A tese de Araújo, defendida no mês de março deste ano, aborda o cultivo da palma forrageira (Opuntia scricta Haw) sob diferentes densidades de plantio, adubação orgânica e irrigação com água salina, e as interações entre esses manejos, com o intuito de identificar sistemas de produção de ruminantes mais sustentáveis e competitivos. A pesquisa foi orientada inicialmente pelo professor do PPGCA Gherman Garcia Leal de Araújo, pesquisador da Embrapa Semiárido, mas ele precisou se afastar por motivo de saúde em 2022. O também professor do PPGCA e pesquisador da Embrapa Semiárido Tadeu Vinhas Voltolini, que era coorientador da pesquisa, assumiu a orientação. Mas Araújo ressalta que o professor Gherman Leal é uma grande referência em sua trajetória no doutorado e contribuiu com o trabalho até sua conclusão. O pesquisador contou também com a coorientação dos docentes Fleming Sena Campos, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e Thieres George Freire da Silva, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
A palma forrageira é uma espécie largamente utilizada na pecuária em todo o Nordeste para a alimentação de ruminantes, por fornecer energia, na forma de carboidratos, e água para os animais. A tese de Araújo teve como objetivo analisar o impacto de diferentes tipos de manejo no plantio da palma para o desenvolvimento da planta, gerando melhor resultado nutricional, e obtendo menor índice de emissão de gases de efeito estufa para o meio ambiente. “Buscamos entender como esses fatores influenciariam a composição nutricional da palma, o crescimento e fenologia das plantas, a emissão de gases de efeito estufa e a biodiversidade da macrofauna edáfica (organismos de grande porte que habitam o solo)”, explica o autor.
O experimento foi realizado em campo na Embrapa Semiárido, em Petrolina (PE), com o plantio e acompanhamento do desenvolvimento de 256 unidades de palma forrageira durante um período de 30 meses, com coletas mensais para avaliação das características físicas das plantas. Os cortes para as análises químicas ocorreram aos 12 e aos 18 meses de cultivo. Nestas duas etapas, foram observados nas plantas o teor de minerais e a composição de fibras, carboidratos proteínas, amido e pectina, além da capacidade de retenção de água e moléculas orgânicas.
Araújo explica que a avaliação da composição da macrofauna do solo ocorreu mensalmente. “Isso permitiu, ao longo do experimento, monitorar os estoques de carbono e nitrogênio do solo, bem como as emissões de gases de efeito estufa através da utilização de câmaras estáticas. Nós observamos a emissão de carbono, óxido nitroso e metano nesses sistemas de cultivo”, relata.
A pesquisa gerou várias constatações relevantes. Entre outros achados, destaca-se que a adubação orgânica da palma forrageira aumenta a população de organismos coprofrágicos, entretanto, a irrigação com água salina reduz a população desses organismos, que são importantes para a saúde do solo e a produtividade das lavouras. Os experimentos também mostraram que uma maior densidade de plantas cultivadas por hectare, adubadas com esterco de caprinos e ovinos e irrigadas com água salina, reduz as emissões de gases de efeito estufa, caracterizando-se como um sistema de produção mais sustentável. Araújo explica também que o aumento da densidade de plantio requer maiores aportes de minerais, o que se reflete em maiores estoques de carbono no solo.
“A adubação com esterco de caprinos e ovinos potencializa a expansão dos tecidos da palma forrageira, entretanto, a irrigação com água salina limita a expansão. A densidade de cultivo é um fator que favorece o aumento de compostos bioativos da palma forrageira e sua composição nutricional não é prejudicada pelos diferentes tratamentos”, diz o pesquisador. Ele observa ainda que a irrigação com água salina deve ocorrer sempre com o acompanhamento técnico, mediante análise do solo e da água para evitar danos ambientais.
Na opinião do professor Tadeu Voltolini, a tese foi muito bem planejada e executada pelo pesquisador durante todo o doutorado. “Foi um trabalho muito bem desenhado e bem conduzido. Houve muito cuidado, zelo e preocupação com a qualidade dos dados e das informações, que envolveu um trabalho coletivo, com a contribuição dos membros de toda a equipe para esse resultado final”, comenta Voltolini. Essas características, associadas a uma boa redação científica e a resultados importantes tanto para a academia quanto para a agropecuária, levaram a tese à conquista dessa premiação.
O professor Gherman Leal destaca que a pesquisa de Araújo teve muito sucesso ao buscar alternativas para o enfrentamento de períodos de secas desencadeadas pelas mudanças climáticas que também possam contribuir para a preservação ambiental. “A utilização de águas salinas para produzir forrageiras passa a ser um recurso extremamente interessante tanto para minimizar a fome quanto a sede dos animais. E concomitante a isso, Cleyton viu a capacidade das plantas de estocarem carbono, que é uma nova diretriz de pesquisa no mundo. E essa junção de objetivos nesse trabalho é muito interessante”, comenta.
Leal ressalta também a dedicação do professor Cleyton de Araújo na realização do trabalho, que junto com a sua capacidade de obter e reunir os dados mais interessantes sobre o assunto estudado tornaram o trabalho atual e de grande relevância. “O tema tratado pelo professor Cleyton foi inédito, com respostas inéditas e de agora em diante vai provocar muito mais pesquisadores a realizar outros experimentos com a mesma finalidade. É uma tese que merece destaque por seus objetivos, que são atuais e extremamente importantes para a agropecuária mundial”, conclui o professor.
Para Araújo, receber o prêmio de Melhor Tese da SNPA lhe proporcionou as sensações de gratidão e dever cumprido. “A importância neste momento é saber que de alguma forma esse trabalho irá contribuir para a pecuária do Semiárido. E, acima de tudo, fortalecer meu compromisso com o ensino e a pesquisa”, afirma.
Portal Univasf
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