Artigo - Um assunto polêmico: celular para crianças

Existe idade ideal para dar um celular para uma criança ou um adolescente?

Luli Radfahrer compara essa situação com falar sobre sexo com essa faixa etária, se não for falado vai ser feito do jeito errado e vai ter consequências muito piores, resultando mesmo numa gravidez precoce.

O mesmo acontece em relação a entregar um celular para uma criança ou um adolescente.

“O problema do celular para o adolescente é que não existe uma educação para isso, não existe uma moto escola para o celular, não existe um algoritmo de transição para o celular. Não tem limite. Aí o pai ou usa o tablet como uma babá eletrônica e entrega na mão dele e na mesma classe tem um pai um pouco mais alternativo, um pouco mais hippie, e diz que seu  filho vai mexer só com livro de papel e não vai mexer com telas. E daí essas duas crianças vão crescendo, quando elas tiverem 12 anos o que vai acontecer? Um menino que viu um monte de tela no momento errado e aprendeu um monte de coisa errada vai encontrar com um menino completamente ingênuo e vai transmitir exatamente a quantidade de coisa errada de um para o outro”, argumenta ele.

“O que a gente precisa fazer? É muito nobre a gente demandar do governo, a gente demandar um monte de coisas, mas a criança está crescendo aqui e agora. Então, o que agora dá para fazer: a família precisa entender e precisa conversar com a criança sobre o celular, principalmente o uso de rede social, quer dizer, entregar um celular sem a capacidade de instalar aplicativo e com a capacidade de usar como câmera, beleza, pode entregar para a criança. Mas ela precisa educar a criança para o uso da rede social e a escola é sensacional, porque a escola não é o lugar que você vai só aprender conteúdo, a  escola é o lugar onde você vai aprender a se socializar, então você tem que ter aula, você tem que ter professor, você tem que ter a direção da escola ensinando a usar grupo de WhatsApp, ensinando  a colocar a fotografia no Instagram e mostrando o que é certo e o que é errado fazer ali; se a criança fizer um negócio que ela sabe que é errado, porque ela vai desafiar, isso é um comportamento típico de adolescente, mas ela sabe o que é certo ou errado e, quando ela tiver uma consequência, ela também entende que isso é uma consequência de uma coisa errada que ela fez.”

O problema, segundo Radfahrer, “é a criança não saber absolutamente nada, os professores ficarem completamente ignorantes disso e a família não saber absolutamente nada, porque daí você cria um hiato de cinco ou seis anos, e é uma época fundamental para uma personalidade em construção, que você está simplesmente abandonando isso, você se preocupa tanto com a criança, tanto com o bebê, pois é exatamente nessa idade que a preocupação é outra, eu não preciso mais ensinar a se vestir ou comer, mas eu preciso ensinar a se socializar. Então, escola, professor, direção e pai, todos precisam começar a falar sobre isso. E eu volto para o exemplo do sexo, precisa ser falado, porque, se não for falado, vai ser feito do jeito errado e vai ter consequências muito piores”, finaliza.

Jornal da Usp