Relatório sobre Conflitos no Campo teve lançamento com dados da Bahia

No último dia 10, aconteceu lançamento oficial na Bahia da publicação Conflitos no Campo – Brasil 2021, da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Com transmissão ao vivo pelo canal do Youtube e redes sociais da CPT-BA, o encontro foi sediado no auditório da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e contou com a presença de representantes da CPT-BA, do grupo de pesquisa de Geografia dos Assentados na Área Rural da UFBA – GeografAR, bem como da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais – AATR.

Andréia Silvério, uma das coordenadoras da CPT, apresentou dados preliminares – e preocupantes – da situação atual dos conflitos no país. Para se ter ideia, o monitoramento da organização aponta que a pistolagem responde por quase 40% dos casos de violência letal contra pessoas e famílias camponesas em 2022.

 Segundo os mesmos dados, só nos primeiros seis meses de 2022 o número de assassinatos derivados de conflitos no campo no Brasil – 25 até aqui – já supera o total de mortes em todo o ano de 2020, quando ocorreram 20 homicídios.

“O não-reconhecimento dos direitos dos povos do campo, da floresta e das águas, o alinhamento do poder Executivo aos interesses do capital e do crime organizado e a impunidade dos crimes no campo são as principais causas dos conflitos”, diz Silvério.

A análise dos dados sobre violência no campo na última década aponta um crescimento recente, segundo a CPT, atingindo mais de cinco milhões de pessoas só nos últimos dois anos. Os assassinatos aumentaram 75% e os casos de trabalho escravo cresceram 113% em 2021, ainda de acordo com a organização.

Na abertura do evento, Clériston Santos (CPT-BA) recitou a poesia “A Rua dos Cataventos”, de Mário Quintana, e na sequência, Marina Rocha (CPT-BA) e Clóvis Araújo (AATR e GeografAR) levaram toda a plateia a cantar “Migrante”, de Zé Vicente.

No ano de 2021 houveram 1.768 conflitos no campo em todo o país, incluindo os conflitos por terra, por água e trabalhistas. Apurou-se que 897.335 pessoas estiveram envolvidas nestes conflitos, apontando uma média 4,84 ocorrências de conflitos no campo por dia neste último ano.

Roseilda lembrou que apesar do número ser alto, ele ainda não representa a totalidade real dos conflitos no país, mas apenas aqueles que foram possíveis haver algum registro. Ela também ressaltou que os números vêm crescendo gradativamente a cada ano, tendo se agravando ainda mais nos últimos 3 anos, apontando que o acirramento desses conflitos foi uma característica marcante do atual governo.

Maria Aparecida trouxe uma amostragem dos conflitos na Bahia em 2021, salientando como esses números são uma expressão da resistência dos povos camponeses e tradicionais. Ela mostrou que no ano passado foram registrados 143 conflitos por terra, água, território e questões trabalhistas no estado, atingindo 15.896 famílias. Esses conflitos são causados principalmente pelo empresariado rural, mineração e o agronegócio, e também pelos governos federal, estadual e municipais, atingindo principalmente comunidades rurais de fundo e fecho de pasto, indígenas, quilombolas e assentados.

Ariele Almeida ilustrou a situação dos conflitos no Brasil afirmando que se a CPT tivesse feito esses registros desde o início da colonização do país, não haveria um ano sequer sem que houvessem registros, pois a história do Brasil é formada por conflitos de terra, água, território e trabalho. Ela também expôs que a alta dos conflitos nos últimos anos tem sido sentida no trabalho da AATR, pois a judicialização desses conflitos também é crescente. É também crescente os conflitos armados, tanto com atuação tanto de pistoleiros quanto de policiais que vêm violentando comunidades a comando de empresários com poder político e econômico.

Após as apresentações da mesa, foi aberto o momento de debate com o público. Carolina Ribeiro, membro do GeografAR, apresentou o Dossiê de Energias Renováveis na Bahia, disponível no link www.dossienergiasrenovaveis.com.br. Em seguida, o advogado Clóvis Araújo, membro da AATR e do GeografAR, lembrou que nesse mesmo site existe um “atlas” com o mapeamento desses empreendimentos no estado.

Na sequência, Ruben Siqueira, da CPT-BA, cita a jornalista Eliane Brum, que disse que “no século 21, o Brasil se torna periferia da Amazônia”, e salienta que os dados de conflito no país confirmam essa afirmativa, pois a grande maioria desses conflitos ocorrem na Amazônia. Albetânia Santos, da CPT-BA, lembrou a violência sofrida pela comunidade de fecho de pasto do Destocado, em Santa Maria da Vitória, que teve suas casas invadidas e incendiadas por pistoleiros na madrugada do dia 14 de julho, por conta do conflito de grilagem de terras na região.

A gravação do lançamento está disponível no canal da CPT-BA, no link youtube.com/cptbahia. O caderno Conflitos no Campo, que estava à venda no formato impresso durante o evento, também se encontra disponível para download gratuito em PDF através do site da CPT, no link https://www.cptnacional.org.br/downloads-1/download/41-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/14271-conflitos-no-campo-brasil-2021.

Redação redeGN com informações CPT e Agencia Publica