O sonho não acabou: no ritmo de Zezito Doceiro, Salgueiro tenta fazer história contra o Santos nesta quarta (23)

"É força, é garra, é magia
O sonho não acabou
Se tem bola na rede começa a folia
Na garganta o grito de gol

Futebol é a minha alegria
Tem festa no interior
No toque da bola tem muita harmonia
Na garganta o grito de gol".

O trecho do hino do Salgueiro, adversário do Santos na estreia da Copa do Brasil, nesta quarta-feira, às 19h (de Brasília), diz muito sobre a simpática e as paixões da cidade pernambucana. Dono de um povo solícito, receptivo e apaixonado por futebol, o município fica localizado no interior do estado do Pernambuco – na região do sertão. Possui 61.561 habitantes, de acordo com dados do IBGE de 2021.

Apesar de paixões divididas por times do Brasil inteiro, Salgueiro concentra seu verdadeiro amor em um clube: o Salgueiro. Campeão pernambucano em 2020, o simpático time local é conhecido, também, como Carcará do Sertão.

Nas proximidades de Salgueiro, os carcarás, como são chamadas as aves de rapina da Ordem Falconiformes, são predominantes. Eles cantam e dão o tom da chegada à tímida e pequena cidade do sertão pernambucano. Mas quem canta a paixão salgueirense não são os carcarás. A voz e o coração do clube local são de Zezito Doceiro, cantor e compositor.

Zezito Doceiro já compôs, como ele mesmo diz, mais de 100 músicas. A mais especial não foi gravada por algum sertanejo de sucesso ou lotou shows pelo Brasil. O artista guarda no coração uma composição muito mais especial: o hino do Salgueiro. Sabe o pai orgulhoso do filho? Então...

Enquanto garotos numa pequena quadra de futebol num humilde bairro de Salgueiro jogavam futebol, Zezito, sentado numa moto, com seus óculos escuros e observando o talento local, se identificou: – Eu sou o compositor do hino do Salgueiro! E soltou a voz...

– É o hino mais lindo do Brasil. É branco, verde e vermelho. As cores do meu coração. Salgueiro Atlético Clube. É o tricolor do sertão – diz, sem medo de deixar para trás outros tantos hinos do futebol brasileiro.

Zezito, assim como o povo salgueirense, "é força, é garra, é magia". O apelido, inclusive, se você estiver se perguntando, vem de uma história de família. O pai tinha uma fábrica de doces e, aos 17 anos, o compositor, ainda um adolescente, era quem mais vendia. Zezito, então, virou Zezito Doceiro.

Conhecido por onde passa, Zezito Doceiro é compositor, também, de outros sucessos, como "De Janeiro a Janeiro", gravada na voz do Babado Novo, e "Quem Ama Cuida", gravada em diversas conhecidas vozes.

Nesta noite, Zezito será um dos 500 torcedores do Salgueiro no estádio Cornélio de Barros. Por causa da pandemia do novo coronavírus, as autoridades locais determinaram que o palco da partida contra o Santos não poderá receber os 12 mil que lá cabem. Bom para o Peixe, inclusive. Acanhado, o local da partida decisiva costuma dar medo em quem passa por ele. Canta mais alto que os Carcarás.

Mas, mesmo assim, se depender de Zezito e do povo apaixonado por futebol, o vencedor nesta quarta-feira será o Salgueiro.

– Eu não conheço, não (os jogadores do Santos). O time do Santos… Nos últimos anos a gente recebeu times grandes como Internacional e Corinthians, que estavam no auge. E eu acho que a gente tem time pra ganhar do Santos aqui – garante Zezito.

Independentemente de quem passe de Salgueiro e Santos, a cidade de Salgueiro continuará apaixonada pelo time local, com seu estádio cuidado com carinho pelos funcionários que lá trabalham e a fé presente nas diversas igrejas espalhadas pelas estreitas ruas do interior do Pernambuco.

Globo Esporte/ Bruno Giufrida, Franciane Dahm e Placido Berci — Salgueiro, PE