Cultura: Mulheres repentistas do Sertão do Pajeú apresentam-se no Rio de Janeiro

A poesia sempre escreveu a história da microrregião do Pajeú. Os violeiros repentistas e os cordelistas do sertão pernambucano conduziram essa narrativa pelo mundo afora. A partir de uma cultura predominantemente oral, eles romperam barreiras sociais e limites geográficos para mostrar à poesia o lugar que merece, na cultura brasileira.

Através da FLUP (Festa Literária das periferias”, recebe o espetáculo “Mulheres de Repente”. A apresentação acontece no Museu de Arte do Rio, localizado no centro, próximo à praça Mauá, com participação e mediação da multiartista pernambucana Luna Vitrolira. 

As glosadoras, como são chamadas as artistas dessa modalidade que estarão no evento, trarão uma parte do Sertão do Pajeú para a capital do Rio de Janeiro, destacando o protagonismo da nova geração de mulheres improvisadoras. A circulação do espetáculo conta com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura.

A programação da FLUP encerra dia 18 de fevereiro, em homenagem à Semana de 22. Ontem segunda-feira (14), o espaço recebeu a Mesa de Glosas: Mulheres de Repente, teve a participação de Elenilda Amaral (Afogados da Ingazeira), Francisca Araújo (Iguaracy), Milene Augusto (Solidão) e Thaynnara Queiróz (Afogados da Ingazeira), Todas sob coordenação de Luna Vitrolira e produção executiva de Taciana Enes.

“Os poemas são improvisados em décimas, a partir de motes elaborados por mim, enquanto mediadora, e revelados apenas na hora da glosa para as poetas. Essa estrutura de dois versos determina os assuntos, a forma métrica e as rimas a serem usadas no improviso, além de obrigatoriamente encerrar as estrofes”, explica Luna Vitrolira.

A ideia é promover, no centro da capital carioca, uma vivência literária com diferentes poetas pernambucanas, valorizando a cadeia criativa local do Sertão do Pajeú, incentivando o intercâmbio de artistas da região para o Estado do Rio de Janeiro.

“Os debates atuais acerca das questões de gênero na literatura brasileira questionam o número de autoras, considerado menor do que de autores que atuam no cenário contemporâneo. Quando pensamos no universo da literatura popular e mais especificamente o repente, durante muito tempo, foi reproduzido o discurso de que não existiam mulheres improvisadoras, cantadoras, glosadoras; na verdade, as poucas eram consideradas exceções, visto que essas eram atividades julgadas como masculinas, por serem realizadas majoritariamente por homens em ambientes noturnos de boemia”, destaca Luna Vitrolira ao falar da idealização do projeto.

Ainda de acordo com ela o caminho em busca de maior espaço no campo literário pelas mulheres é parte do esforço da luta por voz e pelo direito de ocupação de territórios também artísticos. “Esse é o caso das mulheres improvisadoras do Sertão do Pajeú que veem cada vez mais se destacando nas mesas. Mulheres de Repente é um projeto que pretende, portanto, ir de encontro, na prática, aos discursos que tiraram das mulheres, durante muito tempo no sertão, o direito de exercerem sua sensibilidade e criatividade poética no improviso. Nesta edição participarão quatro poetas glosadoras da nova geração que se destacam nessa modalidade, como uma forma de apoiar e incentivar o surgimento de novas vozes no improviso, poetas que darão continuidade a essa tradição”, destacou.

Dada a importância desse gênero da literatura oral para a identidade poética pernambucana e para a cena artística nacional, o projeto se apresenta como uma prática de resistência, manutenção e valorização da memória cultural e poética do sertão do Pajeú, também como uma forma de contribuir para difusão dessa tradição, visando expandir, divulgar e promover a poesia de improviso fora do Estado de Pernambuco para que seja conhecida e valorizada no país.

Luna Vitrolira: Pernambucana, 29 anos, é autora do livro “Aquenda – o amor às vezes é isso”, finalista do prêmio Jabuti 2019, que se transformou em projeto transmídia, com o qual estreou na literatura, na música e no cinema, recebendo destaque na crítica nacional. Luna é escritora, poeta, cantora, performer, apresentadora, palestrante, pesquisadora, licenciada em Letras e Mestra em Teoria da Literatura, pela UFPE. Desenvolve pesquisa acadêmica com ênfase em poética das vozes e poesia de improviso. É também idealizadora dos projetos “Estados em Poesia”, “De repente uma Glosa” e “Mulheres de Repente. Luna Vitrolira está representando o Estado de Pernambuco na Exposição FALARES do Museu da Língua Portuguesa, ao lado de Lia de Itamaracá e Miró da Muribeca.

Redação redeGN