"O Agro está substituindo o trabalhador braçal, o chamado boia fria, pelo operador de máquina", afirma consultor

O agro é um dos setores que mais crescem no Brasil. Representa cerca de 30% do PIB. Com mais produção, também aumenta a demanda por profissionais da área. Em 2021, foram abertas mais de 150 mil vagas ligadas ao setor, segundo os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

No total, são cerca de 9 milhões de pessoas empregadas em atividades ligadas ao agronegócio, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 574 mil a mais que o registrado em 2019, no último levantamento pré-pandêmico.

A população ocupada, que não necessariamente tem carteira assinada, ultrapassa os 18 milhões.

À medida que o setor cresce, porém, os produtores passam a buscar mão de obra cada vez mais qualificada. A tecnologia, responsável por grande parte do bom desempenho brasileiro na agropecuária, fica mais expressiva no campo a cada ano, e os trabalhadores precisam acompanhar.

"O desempenho do agronegócio brasileiro se deve ao avanço da tecnologia. Sabemos que hoje quando estamos comendo um produto, muitas vezes tem mais tecnologia embarcada nesse produto do que em um equipamento eletrônico, porque é um conjunto de tecnologias que vai desde a biologia do solo até a questão do clima", explica Argileu Martins, ex-secretário de Agricultura do DF.

Na opinião de Martins, a tendência é que o mercado de trabalho ligado à atividade se estabilize. José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro, esclarece: "Você está crescendo em tecnologia, usando cada vez mais maquinário sofisticado. Você está substituindo aquele trabalhador braçal — o chamado boia fria — pelo operador de máquina, e acaba tendo cada vez mais uma mão de obra mais qualificada e mais bem remunerada".

O quadro tender a tornar o setor mais competitivo, já que um menor uso do trabalho braçal leva a uma otimização das tarefas e, portanto, a um menor custo de produção, além de resultar em uma redução do impacto ambiental, visto que é possível operar com menos recursos como água e terra.

Rodrigo Coutinho, da fazenda Minelis, é produtor de café e conta que a família toca o negócio no Lago Oeste desde 1987. O local tem 10 funcionários fixos trabalhando diretamente com a plantação, mas, na época de colheita, são contratados pelo menos mais 15.

O empresário relata que o perfil dos funcionários mudou muito ao longo dos anos. "Tem maquinários que vão evoluindo ao longo do tempo e tudo isso vai mudando muito. Agente tinha muita dificuldade de encontrar profissionais que conhecessem a cultura do café, então, isso é muito complicado. Ainda hoje não é tão fácil — porque nós não temos tantos produtores assim —, mas a situação melhorou um pouco, com certeza", diz.

Segundo Coutinho, é preciso promover a capacitação dos trabalhadores de tempos em tempos, em especial quando chegam novos equipamentos: "A gente sempre acaba tendo que investir um pouco para ganhar em produtividade, em velocidade, principalmente, na hora da colheita". Para ele, a chegada da tecnologia no campo "está só começando". "A gente tem muito o que investir nisso ainda, em termos de outras tecnologias, principalmente para acompanhar condições climáticas em tempo real", avalia.

 

Correio Braziliense Foto Agencia Brasil