Artigo – Lava jato e “mãos limpas”: Mera coincidência?

Por mais que pretenda me distanciar, semanalmente, dos temas inquietantes que possam de alguma forma mexer com os sentimentos político-ideológicos das pessoas, em particular dos meus leitores habituais, inevitavelmente isso acontece face à farta disponibilidade de fatos provocados pelas duas correntes políticas mais fortes na disputa do noticiário atual, sobretudo pela influência do ano eleitoral e a importância dos cargos em disputa. Lembrando que esse ano, além da política ainda tem futebol, com a Copa do Mundo batendo na porta e, aqui para nós, como não aglomerar?     

Nos últimos tempos, por exemplo, o Judiciário tem se notabilizado pela presença exageradamente frequente nas discussões políticas nacionais. Em razão dessa exposição pública, o perfil de cada Magistrado passou a ser questionado, não pelo vasto saber jurídico de cada Juiz, mas, quanto à preocupação em identificar qual a sua posição política e o caráter partidário emanado dos Pareceres e decisões. Impossível não recordar que cada Ministro tem memória, e não esquecerá, jamais, que foi indicado pelo Presidente e que, antes da aprovação, visitou o Gabinete de cada Senador, humilhantemente cabalando votos para a sua aprovação! 

Algo para lá de feio na comparação da altivez do cargo com a atitude pequena, mas, grandiosa para o seu interesse pessoal! Mas, a culpa é do Sistema Cooperativo de indicação do candidato pelo Presidente da República e aprovação pelo Senado, vigente só aqui, nos EUA e na Argentina. E o Cooperativo já diz tudo!

Durante a Operação Lava Jato as pessoas de bem aplaudiam o resultado obtido nas investigações, cuja ação fez surgir um manancial de sujeiras inomináveis, que levou à prisão nomes de expressão de empresas do maior potencial econômico do país, autoridades políticas como o ex-Presidente da Câmara de Deputados, alguns Deputados e Senadores, e o próprio ex-Presidente da República! Quantos ainda estão presos? 

A operação daqui teve grande similaridade com a famosa “Operação Mãos Limpas” realizada na Itália nos idos de 1992-1994, que levou à prisão 4.525 denunciados e 1069 políticos investigados. Por aqui, em 5 anos de Lava Jato, tivemos 300 inquéritos abertos, com 600 réus e 285 condenações; lá. o principal Procurador Antonio Di Pietro foi atraído para ser Ministro de Obras Públicas e depois eleito Senador e fundou o seu próprio Partido; aqui, o Sérgio Moro foi para o Ministério da Justiça, para ardilosamente se desgastar, e hoje já está vinculado ao Partido Podemos e se apresenta como candidato à Presidência! Seria mera coincidência as duas histórias?

Assim como aconteceu na Itália, em que a força da classe política se uniu para desmoralizar as “Mãos Limpas”, aqui, Oposição e Situação estrategicamente desenvolveram o mesmo discurso e conseguiram desmontar a operação. A primeira bate na tecla de que toda a corrupção descoberta foi história forjada para condenar os seus líderes; a segunda, diz que representa “um Governo que não tem corrupção”, como se as coisas se revelassem quando ainda no exercício do poder...! 

O que surpreendeu a toda a população, foi assistir a uma esdrúxula mudança de interpretação por parte de alguns Ministros do STF e até do próprio Plenário, que depois de alguns anos acompanhando o desenrolar dos processos e sua condução pelos Juízes e Procuradores da 1ª. e 2ª. Instância Jurídica de Curitiba, no Paraná, de repente consideraram que estava tudo errado e que a alçada de julgamento deveria ser em Brasília! 

Outro fato relevante, é que devido ao tempo transcorrido, subitamente alguns processos foram considerados prescritos! Exemplo ocorrido agora na 12ª. Vara Federal de Brasília, em que a Juíza Pollyanna Alves mandou arquivar o caso do Triplex por prescrição! Ora, essa decisão, inesperadamente, tornou o Lula inocente e elegível? Objetivamente, só esvaziou e desmontou toda uma estrutura que realizou a descoberta de um verdadeiro mar de lama.

As corrupções e escândalos com o dinheiro público revelados pelos próprios envolvidos nos processos da Lava Jato, seja como acusados ou testemunhas, não podem ser esquecidos pelo banal e questionável arquivamento judicial dos seus processos!

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil – Salvador - BA.