“Se tivesse interferência, algumas perguntas não estariam ali”, diz ministro da Educação sobre Enem

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não agradou o Governo Federal, foi o que admitiu na noite deste domingo o ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro.

“Se tivesse interferência [do governo na produção do exame], algumas perguntas não estariam ali”, disse em entrevista coletiva. O ministro, porém, não especificou quais itens ficariam de fora caso o governo tivesse o controle sobre a prova.

As notícias ao longo do mês de que o Governo Federal havia pressionado servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) fez com que muitos estudantes temessem por interferência no conteúdo.

Segundo integrantes do governo, o presidente da República (sem partido), Jair Bolsonaro, queria deixar a prova “com a cara do governo” e pediu ao ministro que o Golpe de 64 fosse chamado de revolução. A preocupação aumentou no dia anterior, com o atraso da chegada dos cadernos de prova à empresa aplicadora.

O tema da redação foi “Garantia de acesso à cidadania no Brasil”. Um trecho da música “Admirável Mundo Novo”, de Zé Ramalho, repercutiu nas redes sociais, com a tese de que a questão confrontasse ideologicamente o Governo Federal.

A prova do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) traz dores de cabeça para os candidatos todos os anos. Mas também há quem se divirta com os conteúdos da prova. O primeiro dia do exame, realizado neste domingo (21), ficou mais uma vez entre os assuntos mais comentados pelos internautas - até os que não fizeram a prova. Uma das questões que mais causou repercussão menciona trecho de "Admirável Gado Novo", música de Zé Ramalho.

"Vocês que fazem parte dessa massa / Que passa dos projetos do futuro / É duro tanto ter que caminhar / E dar muito mais do que receber / Êh, oô, vida de gado / Povo marcado êh / Povo feliz". O trecho da melodia foi abordado em uma questão da prova de Ciências Humanas acompanhado da pergunta "Qual comportamento coletivo é criticado no trecho da letra da canção lançada em 1979?".

As alternativas eram: militância política; passividade social; altruísmo religioso; autocontrole moral e inconformismo eleitoral. 

Não demorou para que os internautas associassem a canção aos apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro. A oposição apelidou os seguidores fiéis de Bolsonaro de "gado". Alguns usuários de redes sociais como o Twitter resgataram a fala do chefe do Executivo sobre a prova começar a "ter a cara do governo". 

Folha Press