Embrapa: mulheres Pesquisadoras são histórias que inspiram em Petrolina

No Brasil, 53% das bolsas de mestrado e doutorado e pós-doutorado são preenchidas por mulheres. Além de estarem em alta na pesquisa, no ensino, no desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação brasileiras, as mulheres também apresentam número expressivos na produção de artigos científicos. Atualmente, 72% dos materiais produzidos no Brasil são de autoria feminina.

Durante anos, muitas mulheres tiveram seus feitos profissionais ofuscados por uma história que preferia predominar o protagonismo masculino. Em áreas como ciência, tecnologia e até mesmo literatura, era comum ouvir, majoritariamente, nomes pertencentes a homens, que dividiam o pedestal do reconhecimento profissional com pouquíssimas mulheres.

Um exemplo vitorioso e destaque é a pós-doutoranda Luana Ferreira. Ela nasceu em Areia, Paraíba. Graduada em Engenheira Agronômica pelo Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba-CCA/UFPB, mestre em Agronomia pelo Programa de Pós-Graduação em Agronomia (Produção Vegetal) na Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Campus de Santa Maria.

Luana é doutora em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba, com pesquisa desenvolvida na EMBRAPA – Semiárido e estágio pós-doutoral pelo Programa de Ciência e Tecnologia de Alimentos, ESALQ/USP. Atualmente é bolsista de pós-doutorado na Embrapa Semiárido, Petrolina, desenvolvendo pesquisa voltada para o armazenamento de manga em atmosfera controlada.

Luana avalia que ser pesquisadora requer dedicação, autodisciplina e acima de tudo curiosidade.

"É preciso estar aberto todos os dias para aprender, evoluir e, não ter preguiça de repetir procedimentos. A carreira de um pesquisador inicia-se na graduação com a escolha de uma linha de pesquisa de maior afinidade. Ao longo da pós-graduação as temáticas vão se afunilando e você sai um especialista em tal área. Há 11 anos a área de pós-colheita têm me permitido conhecer e estudar o metabolismo de frutos de clima tropical e temperado. Tais experiências nos permitem trabalhar para conhecer e aplicar métodos adequados de colheita, conservação e comercialização de produtos vegetais".

"Atualmente, em um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) em parceria com a Embrapa Semiárido, estamos buscando aprimorar e otimizar o uso da tecnologia de atmosfera controlada (AC) para identificar níveis de oxigênio mais eficientes para reduzir o metabolismo de mangas 'Tommy Atkins' e 'Palmer', e garantir que a manga do Vale do São Francisco chegue ao destino final com alta qualidade nos mercados consumidores. Não existem estudos sobre condições ideais de AC para as mangas do Vale do São Francisco e os resultados preliminares mostram que podemos melhorar muito a eficiência de uso da tecnologia para as mangas produzidas no Vale, garantindo que os frutos cheguem com alta qualidade no mercado consumidor. O armazenamento sob AC é muito utilizado comercialmente no Brasil para o armazenamento de maçãs e kiwi. Na Europa e nos EUA, a AC é a técnica mais comumente utilizada no armazenamento de frutas de caroço, como o pêssego.

As condições recomendadas para o armazenamento em AC para manga variam bastante. Fatores como cultivar, época de cultivo e estádio de maturação influenciam diretamente nos níveis dos gases que podem ser utilizados durante o armazenamento. Alguns estudos já foram realizados nessa temática para a manga. No entanto, não existem estudos realizados com mangas produzidas nas principais safras do Vale do São Francisco para identificar níveis de gases adequados para o armazenamento, uma vez que essa região apresenta altas temperaturas e radiação solar durante boa parte do ano".

De acordo com a pós-doutora, os resultados parciais do primeiro ano de pesquisa são promissores.

BONS EXEMPLOS: No dia 1º de setembro se iniciou uma nova gestão da Embrapa Semiárido (Petrolina-PE), tendo à frente a pesquisadora Maria Auxiliadora Coelho de Lima no cargo de chefe-geral.

Com base no plano de trabalho apresentado no processo de seleção, a nova chefia aponta como uma das principais diretrizes e prioridades o fortalecimento da relação da Empresa com as instituições e também com o setor produtivo, comunidades e associações.

“A Embrapa tem uma tradição de ações em parceria com o setor produtivo, e a nossa visão é tornar isso mais forte, de maneira que as linhas de pesquisa, as atuações e as áreas da nossa equipe tenham um alcance maior. Nós temos parcerias muito bem consolidadas, que serão pontes para potencializar o nosso trabalho”, destaca Auxiliadora.

Ela explica que, ¨ao estabelecer uma relação com determinado parceiro para desenvolver um trabalho em conjunto, a Embrapa tem a sua contribuição, mas o parceiro também traz seu know how, informações, sua experiência e sua demanda de problema pra gente aportar soluções, e assim conseguimos ter um impacto maior das nossas ações, destacando o nosso papel para o desenvolvimento regional¨.

Outro grande desafio apontado pela chefe-geral é atingir os diferentes estados do Semiárido brasileiro, que têm realidades distintas e, portanto, demandas variadas. A proposta é de atuação conjunta com outras instituições, como as universidades, os institutos federais, associações, empresas de assistência técnica e extensão rural e as empresas estaduais de pesquisa, entre outros e, assim, conseguir conjuntamente ter as iniciativas que atendam as várias necessidades e microrregiões do Semiárido.

“Sabemos que nossa capacidade operacional tem limitações frente a um número enorme de demandas para os diferentes perfis de produtores, assim como ocorre com outras instituições presentes na região, por isso a convergência de esforços é fundamental para que possamos ter contribuições mais abrangentes”, ressalta. Ela destaca, ainda, a importância de estabelecer as prioridades, identificando o que é mais urgente e o que é possível alcançar com mais eficiência. ¨Há temas de pesquisa decorrentes de problemas recorrentes que precisam de novas iniciativas para resolver, bem como há outros que são novos e requerem um olhar atento para os cenários que se desenham para o Semiárido¨, pontua.

Para Auxiliadora, o fortalecimento dessas parcerias também visa ampliar o potencial de divulgar as tecnologias, os requisitos para adoção, a realidade para a qual se aplica e os benefícios gerados. “Nós não podemos atingir dezenas de milhares de pessoas diretamente, mas é possível formar multiplicadores e esses multiplicadores alcançarem um número grande de produtores. Essa é uma estratégia, também, para suprir a limitação operacional em função de tamanho de equipe e, inclusive, de recursos para a realização constante de eventos”.

Ela ressalta que, em razão da pandemia, a Empresa passou pela experiência de aperfeiçoar os processos de formação on-line, tendo hoje ferramentas que permitem atingir um público grande, por meio de capacitações, treinamentos, palestras, entre outros. Considera, no entanto, que as ações presenciais também continuam sendo fundamentais, e que as estratégias podem ser diversas, conforme a realidade e o objetivo que se pretende atingir.

INOVAÇÃO: A chefe-geral destaca a necessidade de atualização e consultas regulares junto ao setor produtivo, com o objetivo principal de manter o vínculo entre o que é demandado e a contribuição da pesquisa para solucionar os problemas. Outro foco importante é identificar o impacto que essas contribuições causam.

“Precisamos fortalecer os nossos projetos de pesquisa, mas principalmente avançar no campo da inovação, uma vez que ela só existe quando o usuário incorpora uma determinada solução para um problema, e também quando ele participa do desenvolvimento dela em conjunto com a Embrapa, avaliando se realmente é esse o tipo de solução que se ajusta à sua realidade e que resolve a questão.

Auxiliadora observa que, durante muito tempo, essa foi uma limitação da atuação da Empresa, que tinha tecnologias para determinados problemas, mas que muitas vezes não chegava ao usuário. Por isso, ela aponta a necessidade de reforçar essa ponte, para que o usuário reconheça que existem tecnologias desenvolvidas para atendê-lo, para amenizar e solucionar efetivamente problemas da sua atividade produtiva, e que estão disponíveis para serem adotadas.

“O objetivo é que, ao gerar resultados, eles sejam incorporados pelos usuários para que se tenha uma melhoria econômica, mas também de competitividade da cadeia produtiva, além dos aspectos sociais, contribuindo para o desenvolvimento regional e os demais benefícios que podem vir de um resultado consistente”, observa.

Para a chefe-geral, essas interfaces são fundamentais pra ter maior clareza do que a Embrapa está realizando, mas também ter maior relevância do uso daquilo que a Empresa disponibiliza, alcançando o maior número possível de beneficiários. “Nosso papel é de uma instituição promotora de desenvolvimento social e econômico no Semiárido. A gente precisa apresentar isso como nosso grande lema e como frente para qualquer iniciativa. Então, a nossa perspectiva é deixar isso visível, tanto interna quanto externamente, para atingir o público-alvo, nas áreas do Semiárido onde podemos alcançar, e que isso seja reconhecido como contribuição”, conclui.

GESTORA: Com quase 20 anos de atuação na Empresa, Maria Auxiliadora Coêlho de Lima tem vasta experiência em gestão, tendo sido chefe adjunta de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) da Embrapa Semiárido, no período de dezembro de 2007 a abril de 2015. Antes, foi coordenadora da equipe de pesquisadores do Núcleo Temático de Agricultura Irrigada da Unidade, de abril de 2006 a dezembro de 2007, e também coordenou as ações de P&D e Transferência de Tecnologia da rede de pesquisa em Vitivinicultura no Semiárido, de 2013 a 2018.

Nos últimos dois anos foi coordenadora do Portfólio de Fruticultura Tropical da Embrapa, que reúne todos os projetos de pesquisa voltados para a temática no âmbito da Empresa, em todo o país. Nessa oportunidade, teve importantes experiências que deverá trazer para a gestão da instituição, principalmente as priorizações de pesquisa, por meio de uma atuação de contatos e consultas a representantes do setor frutífero de vários estados brasileiros, levantando os principais problemas e demandas do setor produtivo.

Auxiliadora é graduada em Engenharia Agronômica pela Universidade do Estado da Bahia (1993), e tem mestrado e doutorado na mesma área, com especialização em Fitotecnia, ambos cursados na Universidade Federal do Ceará (1998 e 2002, respectivamente). Como pesquisadora, atua na área de agronomia, com ênfase em Fisiologia e Tecnologia Pós-Colheita.

Redação redeGN Foto Arquivo pessoal