"A desertificação do solo não é um perigo apenas para as áreas secas do planeta", diz Cícero Felix

Quando se fala em desertificação, qual região do Brasil lhe vem à mente? Aposto que é a região semiárida ou o Sertão nordestino. Acertei? Na verdade, a relação direta entre área seca e infertilidade do solo não é à toa.

O conceito de Desertificação, pela Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), situa a ocorrência deste fenômeno justo nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas do planeta.

O que acontece é que a degradação do solo até chegar à etapa irreversível da desertificação não se observa apenas nos biomas que ocorrem nas áreas mais áridas. Esta é a convicção do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMSJ), que se incumbiu da missão de problematizar o conceito defendido pela ONU em todo o Brasil, convocando os diversos segmentos da sociedade para ampliar o olhar para os sete biomas, uma vez que todos sofrem constantes processos de degradação.

"Para nós, esses processos de degradação e destruição das condições de vida e da erosão da biodiversidade acontecem na Amazônia, no Pantanal, assim como acontecem nas Caatingas e nos Cerrados, mas também acontecem na Mata Atlântica. Porque, na verdade, os processos - são diversos processos de desertificação - são provocados pelas ações humanas, pela forma como os seres humanos manejam os bens naturais dos diversos biomas", assegura Cícero Félix, que representa a ASA Brasil no Fórum.

Formado por 31 organizações, articulações, movimentos da sociedade civil, nacionais e internacionais, o Fórum está executando uma estratégia para conhecer melhor a situação de degradação de todos os biomas, identificar as iniciativas preventivas ou de recuperação em execução e, com base nisso, reforçar o sinal de alerta, já acionado pelo Fórum, com relação a este problema. O enfrentamento da desertificação foi eleito como ação prioritária deste coletivo nacional.

O primeiro passo da estratégia definida pelo Fórum foi a realização do Diagnóstico Situacional do Estado de Degradação de Terras em Processos de Desertificação no Brasil, a partir da aplicação de um questionário para 222 organizações no ano passado. As respostas coletadas vieram de cinco dos sete biomas brasileiros. E, ainda assim, houve uma concentração grande (95,92%) da amostragem no bioma Caatinga. O não envolvimento no diagnóstico só reforça a leitura do Fórum de que o perigo da desertificação nos demais biomas "é pouco visível do ponto de vista da consciência coletiva da sociedade", como assegura Cícero.

O representante do FMCJS conta porque o Fórum elegeu para si a missão de ampliar o olhar da sociedade brasileira para a desertificação, um problema mundial intrinsecamente relacionado às mudanças climáticas. "Mudanças climáticas e desertificação têm uma interdependência muito grande. Uma alimenta a outra. Uma provoca a outra", pontua Cícero.

ASA PE