Artigo - Presidente: Atropelando pelas palavras!

É óbvio que é um ato de justiça o reconhecimento, por apoiadores ou contrários, de medidas implantadas pelo atual governo que se configurem no rol das providências acertadas, embora essa seja uma obrigação já implícita ao cumprimento do dever. Mas, de maneira mais incisiva, há uma avaliação que lhe recai sobre os ombros, decorrente de um elenco de manifestações negativas de grande repercussão e relevo, porque inadmissíveis seu cometimento pelo Presidente da República. 

Tenho visto em alguns comentários e mensagens que circulam pelas redes sociais, a afirmação contundente dos seus defensores de que “ninguém é perfeito”, como forma de justificar e minimizar tantas barbaridades ditas e repetidas aos montões pelo Bolsonaro. 

Em almoço privado com empresários do ramo de bares e restaurantes, além de Ministros e “apoiadores”, em Brasília, no último dia 27/01, ao discursar, respondeu às acusações feitas pela imprensa sobre despesas de alimentos do Governo Federal, em 2019, e usou de palavrões e xingamentos de tão baixo nível, que me recuso a reproduzi-los em respeito aos leitores e ao Blog! E olha que houve risos de vibração e aplausos por parte dos Ministros e convidados presentes, além de gritos de “mito, mito, mito”, pela plateia à volta!  Vergonhoso e degradante, para não dizer um descontrole verbal irresponsável, como se tanta baixaria pudesse ser admitida no perfil de um Presidente da República! Um pai ter que pedir às crianças que se retirem da sala porque o Presidente vai falar, é indigno e deplorável! 

O advento da Pandemia trouxe à vida das pessoas em todo o Mundo, e no Brasil para milhões de brasileiros, de forma particular, a angústia de não se despedirem dos seus mortos, de famílias passarem a conviver com a dor, além de milhões de desempregados na economia formal e informal. Para quem tem sua vida normal, não imagina a angústia do trabalhador informal, que é chegar ao fim de cada dia sem um centavo furado, ou faturado, para levar para casa.

Em qualquer nação afetada pelo COVID-19, além da solidariedade e intervenções oficiais, o maior conforto esperado pelas pessoas, é a confiança inspirada pelo equilíbrio, coerência e sensatez do seu líder principal. E o que mais se viu por aqui no Presidente da República foram atitudes de insegurança nas posições assumidas, com palpites frequentes sobre o que não conhecia, ou seja, a área da ciência médica.

É um personagem de muitas e variadas mutações, tantas quanto as do próprio Vírus! E o pior, aquele que seria o seu melhor apoio para a gestão de uma crise dessa natureza, o Ministro da Saúde, com todo o respeito, é um General! Mais perdido do que cego em tiroteio na gestão da saúde! E todos da farda sabem que uma guerra depende das estratégias do Comandante, inclusive, as emissoras de TVs têm dito adjetivos menores sobre o ministro perdido...

No último dia 26, por um instante algo surpreendeu o Brasil e o Mundo! Aquele que aqui tantas vezes andou na contramão da realidade do que se passa no planeta Terra, e que ironiza a prioridade do processo imunizador da vacina, como solução mais urgente para a superação da tragédia viral, subitamente, numa reunião com investidores, disse que o Brasil, àquela altura, já era “o sexto país que mais vacinou no Mundo. Brevemente estaremos nos primeiros lugares”! A empolgação foi tamanha que pecou pelo exagero, visto que no monitoramento feito pela Universidade de Oxford, o Brasil está bem distante nesse ranking dos que mais vacinaram. Como sempre - e mais uma vez -, ele atropelou as palavras.

Esse fato, que aparentou um breve excesso de otimismo, ainda que mal informado, sugere a pergunta: será que estaríamos diante de um possível e sugestivo redirecionamento na postura presidencial? Talvez, mera ilusão. Mas, o que se deseja é que seja, progressivamente, mais equânime nas suas colocações, além de buscar um melhor assessoramento para vencer os dois anos de mandato que lhe restam, ao invés de sair ATROPELANDO a tudo e a todos PELAS PALAVRAS!
  
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.