Nível de coronavírus nos esgotos de BH é quase o dobro do que apurado em julho de 2020, período considerado crítico da pandemia

A carga viral (quantidade de cópias do vírus) detectada nas amostras de esgoto oriundo de Belo Horizonte (Minas Gerais) atingiu seu segundo maior nível desde o início da pandemia, aponta o Boletim de Acompanhamento nº 29 do projeto-piloto Monitoramento COVID esgotos, divulgado nesta sexta-feira, 29 de janeiro.

Na segunda semana de pesquisa em 2021 (de 11 a 15 de janeiro de 2021), os níveis do vírus encontrados nos esgotos são inferiores apenas ao patamar apurado na semana 52 do estudo (21 a 25 de dezembro de 2020), quando foi registrada a maior carga viral no esgoto desde o início da pandemia. 

Em Belo Horizonte, as cargas virais continuam elevadas, cerca de aproximadamente 30 trilhões de cópias por dia. Esse patamar de carga viral é quase o dobro do valor encontrado no período mais crítico do mês de julho de 2020, quando a carga viral atingiu cerca de 18 trilhões de cópias por dia. Os resultados fazem parte da nova fase de comunicação do projeto-piloto para 2021. A partir deste boletim, os pesquisadores passam a apresentar os valores em termos da carga viral detectada no esgoto, atendendo ao intuito principal do projeto, que é o de permitir uma avaliação comparativa do nível de circulação do vírus em relação as semanas anteriores.

A quantidade de pessoas infectadas estimada a partir desta carga viral passou por reformulação metodológica, após a incorporação de novos dados e pesquisas ao longo do projeto, nas 53 semanas de trabalho realizado em 2020. Tais achados incluem, por exemplo, novas evidências de que o período de secreção do vírus nas fezes de pessoas infectadas pode durar até sete semanas, e varia de indivíduo para indivíduo.

Esse aprimoramento resulta em valores de população infectada estimada cerca de 4-6 vezes inferiores aos valores calculados com a metodologia anterior e guardam mais coerência com a população que contribui com esgoto para as duas Estações de Tratamento de Esgotos da cidade de Belo Horizonte. Embora a nova metodologia de cálculo tenha resultado em uma menor população infectada estimada, isso não significa que houve redução das cargas virais determinadas a partir do monitoramento do esgoto e, portanto, da circulação do vírus em Belo Horizonte.

A variação dessa estimativa também passa a ser considerada nos boletins, que trazem a população infectada por faixas, representando valores mínimo, médio e máximo. Abaixo, veja o gráfico que ilustra a variação do equivalente populacional para um mesmo valor de carga viral, de acordo com tais critérios:

A população total infectada estimada para o conjunto de regiões (sub-bacias de esgotamento) que contribuem com esgoto para as ETEs Arrudas e Onça apresentou valor mediano de cerca de 250mil pessoas (entre 190 e 345 mil pessoas, considerando os cenários) na semana epidemiológica 02/2021.

Em Contagem, a população infectada estimada referente às regiões monitoradas do município na última semana de monitoramento foi de cerca de 45 mil pessoas, indicando um leve aumento em relação ao valor observado na semana anterior de monitoramento (cerca de 30 mil na semana epidemiológica 01/2021).

Os resultados das amostras de esgotos coletadas durante todo o projeto estão acessíveis no Painel Dinâmico Monitoramento COVID Esgotos (dashboard) em: https://bit.ly/dashboard_covid_esgotos .

PROJETO: O projeto-piloto Monitoramento COVID Esgotos tem o objetivo de monitorar a presença do novo coronavírus nas amostras de esgoto coletadas em diferentes pontos do sistema de esgotamento sanitário das cidades de Belo Horizonte e Contagem, inseridos nas bacias hidrográficas dos ribeirões Arrudas e do Onça. Assim é possível gerar dados para a sociedade e ajudar gestores na tomada de decisão.

O trabalho, que terá duração inicial de dez meses, é fruto de Termo de Execução Descentralizada (TED) firmado entre a ANA e o INCT ETE Sustentáveis/ UFMG. Com a continuidade dos estudos, o grupo pretende identificar tendências e alterações na ocorrência do vírus nas diferentes regiões analisadas para entender a prevalência e a dinâmica de circulação do vírus.

Os pesquisadores participantes no estudo reforçam que não há evidências da transmissão do vírus através das fezes (transmissão feco-oral) e que o objetivo da pesquisa é mapear os esgotos para indicar áreas com maior incidência da doença e usar os dados obtidos a partir do esgoto como uma ferramenta de aviso precoce para novos surtos, por exemplo.

Com os dados obtidos, é possível saber como está a ocorrência do novo coronavírus por região, o que pode direcionar a adoção ou não de medidas de relaxamento consciente do distanciamento social. Também pode possibilitar avisos precoces dos riscos de aumento de incidência da COVID-19 de forma regionalizada, embasando a tomada de decisão pelos gestores públicos.

Ascom Ana