Conselho da Promoção da Igualdade Racial de Juazeiro reflete sobre a importância do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa

Em 21de janeiro de 2000, morreu a yalorixá Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda, líder do terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, localizado no bairro de Itapuã, em Salvador/BA.

Mãe Gilda, teve um infarto fulminante depois de ser vítima de racismo religioso promovido por seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus (IURDI), que com um exemplar do jornal Filha Universal, que publicou uma matéria tratando dela, cujo título foi “Macumbeiros charlatões lesam a vida e o bolso de clientes" invadiram seu terreiro para agredi-la física e verbalmente. Vitima de agressões físicas e verbais ela não aguentou e faleceu.

Sete anos depois e fruto de muita luta, o dia 21 de janeiro foi instituído como o Dia Nacional 2007 de Combate à Intolerância Religiosa, através da Lei nº 11.635, de 27 de dezembro. O terreiro Abassá de Ogum, hoje liderado pela filha de sangue de Mãe Gilda, a yalorixá Jaciara dos Santos, que tem promovido várias lutas contra o racismo religioso. Uma delas foi à construção de um busto em homenagem a Mãe Hilda, na Lagoa do Abaeté, em Salvador. E mesmo depois de sua morte, o busto já foi violentado duas vezes.

O número de casos de racismo religioso, com registro de agressões físicas e verbais, tem crescido no Brasil, principalmente, a seguidores/as de religiões de matriz africana. Os dados de 2020 ainda não foram divulgados, mas só no primeiro semestre de 2019 foram sido registrados 314 casos no Brasil, contra 211, no mesmo período do ano anterior. E Juazeiro não está fora dessas estatísticas. Em 2015 o terreiro Ilê Axé Oyá Gnan, liderado por mãe Adelaide, no bairro do Quidé, passou a ser alvo de apedrejamentos, invasão e destruição de fotos e móveis. Os atos de violência só pararam em 2019.

Já o líder do Terreiro de Candomblé Abaçá Caiango Macuajô de Juazeiro\BA, Emerson Oliveira da Silva Maia, pai Bimba, 36 anos, em 2018, registrou queixa na Policia Civil, denunciando uma invasão, quebra e destruição de objetos sagrados de seu terreiro, em construção no bairro Sol Levante.

Em outubro do ano passado a Terreira Tenda de Umbanda Mensageiro de Luz, localizada na Rua 1, no bairro do Quidé, foi denunciada por promover excesso de ruído, junto ao Ministério Público, por uma vizinha que professa outra religião. O problema, que já resultou em BO e crime de racismo religioso nas redes sociais, ainda está sem solução.

Segundo Luana Rodrigues, presidente do Conselho da Promoção da Igualdade Racial de Juazeiro/BA (COMPIR), esse tipo de racismo precisa ser denunciado e superado pela sociedade brasileira. “Nesse sentido, o Compir constitui-se como uma conquista da população negra juazeirense. Em especial, os grupos que atuam com cultura e religiões de matriz africana, porque o Compir é a instituição que representa esse segmento e que vai dialogar com o estado e Ministério Público”. Luana, ressaltou o reconhecimento do Compir às pessoas que tem dedicado suas vidas ao enfrentamento do racismo religioso e pelo respeito às religiões de matriz africana.

Ascom Compir Foto Márcia Guena