Artigo – Tal pai, tal filho?

Quando o que mais se esperava era um início de ano alvissareiro, com um horizonte pleno de boas expectativas, sem os percalços que tanto incomodaram a vida das pessoas no Brasil e no Mundo, eis que a maior potência mundial, parâmetro modelar do Sistema Democrático em todo o universo, e sob a convocação e incentivo direto do próprio Presidente da República, Sr. Donald Trump, que já está praticamente com os dois pés fora da Casa Branca, dá um péssimo e indigno exemplo de como insuflar a população à desordem e à anarquia contra as Instituições.

O que se presenciou no último dia 06 de janeiro nos EUA, foi tão raro e inusitado de se ver que, certamente, vai ser uma página virada na História americana! Pela República dos EUA nunca passou um Presidente tão obtuso e débil no exercício da liderança do país, tanto no plano interno como internacional. Se o chamarmos de casca-grossa é uma forma clássica para não o classificar de despreparado para o cargo.

Derrotado fragorosamente na eleição dos Delegados do Colégio Eleitoral que elegeu o seu concorrente Joe Biden, ele ainda insiste em dizer que houve fraude, mas não exibe nenhuma prova. A Lei Eleitoral americana exige a Certificação da contagem final dos votos registrados, de 306 para Biden e 232 para Trump, numa Sessão Conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A invasão objetivou justamente impedir a realização da sessão, que veio ocorrer somente após o controle feito pela Guarda Nacional. A expressão que é muito usada nos países latinos, logo foi aplicada para qualificar o episódio: “tentativa de golpe”!

Os Estadistas importantes das maiores nações do mundo reagiram indignados diante do episódio dantesco ocorrido no Capitólio, com a destruição de instalações internas e documentos, em atos de vandalismo jamais imaginados de ocorrer numa potência política e econômica desse nível. O absurdo revoltou tanto os políticos americanos, que até mesmo Senadores do Partido Republicano, do Presidente, não só manifestaram revolta por ver o seu líder incentivar os seus apoiadores a uma manifestação tão deplorável, como alguns mudaram os seus votos na confirmação do resultado da eleição.

Vivemos aqui no Brasil cercados de muitos problemas e não seria pertinente dedicar atenção ou atribuir foco à eleição americana. Mas, não é possível desconhecer que se trata da nação líder do bloco de países ocidentais, do qual o Brasil faz parte, e não podemos desprezar a gravidade de acontecimentos dessa ordem, bem como as possíveis implicações e consequências de um eventual mal líder a ser eleito por lá.

Quando muito se fala do desempenho do Presidente do Brasil, não somente a preocupação está voltada para o encaminhamento dos problemas, gestão de crises internas, Pandemia e créditos emergenciais de socorro etc., mas, também, a sua capacidade de ser um líder representativo da Nação no contexto internacional, postura digna e equilíbrio ao se manifestar sobre assuntos de interesse comum entre as nações.

Por exemplo, a partir da hora em que o Trump alegou ter existido fraude nas eleições de lá, nunca comprovada, o Bolsonaro, que muito se identifica com ele, passou a repetir com frequência a ladainha de que aqui também houve fraude. Então, a sua eleição está sob irregularidade? Pior, já profetisa que poderá haver fraude em 2022, e planta ameaças de que aqui poderá ser pior do que lá! Prega a volta às cédulas eleitorais, num pensamento retrógrado e inimaginável!

Ora, é inquestionável que ambos muito se identificam e a loquacidade destemperada do de lá, muito se assemelha ao de cá... Como pode o próprio Presidente estimular a agitação e a intranquilidade na Nação? Bem afirmou o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia: “Bolsonaro consegue superar os delírios e devaneios de Trump”. Ou seria cabível a comparação: “tal pai, tal filho”?

Existe uma inter-relação cultural, social ou de interesses econômicos comuns entre os países que integram a comunidade internacional, não se concebendo o isolamento ou individualismo de qualquer Nação, por mais poderosa que seja. Assim, a identificação política entre os dois Presidentes atuais, não deve se sobrepor aos interesses nacionais, visto que já estará consumada a posse no próximo dia 20/01, do novo Presidente nos Estados Unidos da América.

Autor:  Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.