Artigo – A história política dividida em ciclos

Da lagarta à borboleta

Tão logo divulgados os resultados das urnas de cada pleito, o quadro pós eleitoral oferece uma grande diversidade de análises e avaliações múltiplas, não somente pertinentes ao desempenho dos candidatos e suas respectivas legendas partidárias, mas, principalmente, no que tange ao prestígio dos apoios oferecidos pelas lideranças políticas e qual a efetiva expressão de valor das indicações passadas aos seus eleitores, supostamente fidelizados ou, como é comum se dizer em algumas regiões do interior, encabrestados por algumas benesses. Qual é mesmo o nome disso no popular? Voto de cabresto!

Percebe-se, todavia, que nos últimos tempos tem ocorrido um processo de evolução ou amadurecimento da grande massa de eleitores, direcionado para mensurar o grau de dominação e comprometimento de determinadas correntes políticas, e o real momento de promover eventuais mudanças.

A história está plena de exemplos da ascendência e queda de domínios políticos de várias tendências. A memória mais recente a merecer registro, iniciou-se com a “Era Vargas”, na marcante figura do ex-presidente Getúlio Vargas, nascido em 1882, que ascendeu ao poder através da “Revolução de 1930”. O seu governo se notabilizou por algumas conquistas importantes, como: a implantação da indústria de base; instituiu o voto secreto; deu às mulheres direitos políticos; criou a jornada de trabalho de 8 horas diárias; tornou obrigatória a Carteira Profissional; criou a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho, etc.

Ao derrotar o movimento da Intentona Comunista em 1935, Vargas implantou a fase do “Estado Novo”, com poderes ditatoriais, e ficou no Poder até 1945. Encerrada a Segunda Guerra Mundial, renunciou ao Poder e realizou a eleição, elegendo para Presidente o seu Ministro, Gen. Eurico Gaspar Dutra, que governou de 1946/1950.

Como prova de que ficaram boas lembranças de algumas conquistas dos quinze anos de Vargas – as quais estão aí presentes até os dias de hoje, principalmente trabalhistas -, o povo o elegeu pelo voto para Presidente da República em 1950, em substituição a Dutra. Nessa nova fase, estatizou o fornecimento de Energia e criou a Petrobrás. Em decorrência das grandes pressões políticas, não resistiu e se suicidou em 24 de agosto de 1954.

Como esses períodos se alternam de forma cíclica entre Direita e Esquerda, eis que em março de 1964 surge o Golpe Civil-Militar para derrubar o Presidente João Goulart e iniciar um domínio ditatorial até 1985, ou 21 anos! Era um poder legitimado por Eleições Indiretas e amparado por Atos Institucionais discricionários, que cerceavam as liberdades individuais, censuravam a imprensa, prendiam e exilavam muitos ativistas da Esquerda política.

Mais uma vez a pressão oriunda dos movimentos populares atingiu o seu ápice com as “Diretas Já”, sensibilizando - para não dizer pressionando -, o então Presidente Gen. João Figueiredo, que “sancionou a anistia, libertou presos políticos, propiciou a volta dos exilados, e restabeleceu o pluripartidarismo”. Em 1985 os militares resolveram deixar o poder, e assim na eleição indireta daquele ano, o ex-Senador Tancredo Neves ganhou a Presidência do seu concorrente Paulo Maluf. Só que faleceu antes da posse e José Sarney, o seu Vice, assumiu o governo.

Assim, chegamos a um novo período Democrático da História brasileira, que logo se subdividiu em duas fases: A Esquerda, a partir de Fernando Henrique Cardoso em 1995, até findar em Dilma Rousseff em 2016, coincidentemente, durou 21 anos! A partir daí, a Direita volta ao Poder. Se vai dar meia volta volver ou se vai continuar, só o tempo dirá.

Esta crônica tentou fazer uma síntese dos acontecimentos políticos da nossa história recente. Se o que aconteceu nessas últimas eleições foi para o bem ou para o mal, a resposta virá daqui a quatro longos anos!

Quem vê o perfil multicolorido de uma borboleta, não imagina que foram vários os seus ciclos de vida até a metamorfose final, quando evoluiu de uma simples lagarta para voar exibindo os seus encantos. Assim é a história política de um país e suas periódicas mutações. Sempre se espera uma progressiva metamorfose moral nos homens que estão no comando, até o País alcançar o seu grande momento. 

Conclusivamente, nada é mais verdadeiro do que o contido no provérbio português: “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe...”.

Autor:  Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.