Artigo - Brasil: Condenado ao terceiro mundo?

Temos vivenciado momentos curiosos no cenário político que vem se tentando construir no Brasil dos dias atuais, em que se confunde o sentido de patriotismo, honra e amor à pátria, com deselegância e grosseria com países parceiros. Tristemente, ainda fazemos parte do rol clássico do Terceiro Mundo, ou seja, bloco das nações consideradas pobres e com sérios problemas sociais como a violência, a miséria extrema e a corrupção.

As investigações da Operação Lava Jato, por mais que combatidas e execradas, somente confirmaram essa tendência típica de pátria Terceiro-Mundista. E sobre essa Operação não se fala mais, por quê?

A definição básica para esse segmento, está contida na referência aos “países capitalistas economicamente subdesenvolvidos e geopoliticamente não-alinhados”. Contudo, não vejo como hoje possa adequar essa classificação ao Brasil, visto que, tradicionalmente, temos um alinhamento consagrado com os países capitalistas, e com os EUA, em particular, que é a principal potência política e econômica do Primeiro Mundo. No campo do desenvolvimento econômico, atingimos um estágio razoável. Obviamente, o que pesa negativamente na aplicação dos critérios classificatórios, são os problemas sociais, a violência e a corrupção, lamentavelmente ainda bastante ascendentes. E isso é um problema, realmente, visto por todos os ângulos como uma tremenda falta de vergonha, praticado por uns tais que se aproveitam do cargo que ocupam para matarem a sede com a água da ganância.

Ora, se fazemos parte do agrupamento econômico denominado BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, classificados como países emergentes, é porque  reunimos potencialidades e expectativas econômicas no campo das riquezas naturais, minerais e agropecuárias, além dos traços culturais e literários históricos, que podem nos habilitar, um dia, a integrar o seleto Primeiro Mundo das potências capitalistas desenvolvidas. Interessante é que o BRICS é um grupo informal, sem estatuto ou reconhecimento como instituição, mas, seletivamente, constituído por cinco países “com base nos princípios de não-interferência, igualdade e benefício mútuo”. E olha que estamos ao lado da Rússia e China, que deixaram de ser apenas emergentes... 

Custa a entender que sendo o Brasil parceiro comercial da China, para quem exportamos produtos no montante de US$ 58,549 bilhões entre janeiro e outubro deste ano, cooptando interesses econômicos semelhantes dentro do BRICS, e o Presidente da República e o Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Deputados, coincidentemente o seu filho, Deputado Eduardo Bolsonaro, estejam a assumir atitudes insensatas e restritivas contra a China, em contraponto a relações diplomáticas e comerciais de muitos anos! No mínimo, uma tremenda falta de coerência e equilíbrio, que choca de frente com a postura exigida entre Nações que mantêm relações diplomáticas regulares. Se a disputa mútua pelo poder mundial político e econômico altera as relações entre EUA e China, não cabe ao Brasil o papel de juiz moderador, mesmo porque, até onde sabemos, não foi convidado a se manifestar sobre isso. E mais, o conteúdo inteligível dessa família não nos representa.

É inegável que os problemas sociais e econômicos do Brasil foram agravados pelas consequências advindas da Pandemia que afetou a todo o mundo, e trouxe ao governo uma elevada sobrecarrega, principalmente porque, em paralelo, houve a ocorrência da catástrofe dos incêndios da Amazônia. De outra parte, ao estadista não lhe é permitido que a emoção gere o desequilíbrio e o descontrole verbal, colocando em risco a estabilidade, a segurança e os interesses da Nação. Mas, onde está o Estadista? PROCURA-SE...

Enquanto as ameaças entre as potências intimidam e amedrontam pelos riscos que possam advir, inversamente, quando a bravata tem origem de uma nação do Terceiro Mundo para uma do Primeiro ou Segundo Mundo, a coisa beira o ridículo! Então, Presidente, quando acabar a saliva que amacia a força dos argumentos, vai usar a pólvora como o argumento da força? Menos, Presidente!

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.