Artigo – Um governo entre tapas & beijos

Embora hoje já não sejam tão frequentes as entrevistas diárias do Presidente da República, como aconteciam algum tempo atrás, ainda, assim, nas poucas ocasiões em que se dispõe a falar, mantém a característica básica que, geralmente, utilizava nas suas respostas aos jornalistas, ou seja, um tom agressivo e que procurava extrapolar certa tendência autoritarista. Sendo mais exato: seu autoritarismo é feio para a vida moderna em que vivemos.

Esse hábito pouco delicado, induz na mente dos que lhe são ferreamente contrários, o convencimento de uma vocação para ditador, sobretudo em razão da sua formação militar. Como foi eleito pelo voto livre e popular de 57,7 milhões de eleitores, sob a égide de um sistema democrático, entendo que esse tom usado na comunicação deveria ter um viés mais ameno e mais condizente à postura exigida pelo cargo. A verdade é que tudo isso tem inspiração no fator índole pessoal, a propósito de alguns desencontros já ocorridos quando Deputado Federal e, assim, não serão os requisitos inerentes ao cargo, que irão modificar certas atitudes. Como já disse em outra oportunidade, educação é algo que vem de berço, ou seja, da convivência doméstica da casa de cada um.

Muitos brasileiros que o acompanham politicamente, às vezes apreciam o estilo forte, machista, e não fazem qualquer restrição por confundirem, erroneamente, a agressividade verbal como prova de autoridade, coisas inusitadamente diferentes. Existem aqueles, entretanto, que nele votaram por considerá-lo como a única opção alternativa, naquele momento, além do óbvio desejo de mudança, e diante da insuficiência de perfil entre os demais candidatos. Hoje, esse segmento demonstra indiferença e decepção.

O destempero ao expor o seu pensamento, porém, não se constitui na condicionante mais significativa ou preocupante. Há algo que vem incomodando de forma cada vez mais constante, pela clara evidência de um clima de desunião e instabilidade das relações entre os Ministros do Governo, o que exterioriza falta de liderança e comando da equipe. Normal? Sim... Se o Chefe de Estado desconhece as técnicas das boas relações entre seus colaboradores, o que esperar dos mesmos? É cada um com o “rei na barriga”, como diz um dito popular.

Seria desgastante enumerar aqui todos os entreveros já registrados entre Ministros, mas lembraria aqui os embates recentes mais relevantes entre Ricardo Salles (Meio-Ambiente) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), e as agressões verbais públicas entre os mais importantes Ministro do Governo, o Paulo Guedes (Economia) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional). O pior é que o foco de tudo está na vaidade pessoal e na luta pelo espaço ao lado do Chefe! Como o Guedes é quem define a cara da Administração central, deve haver uma adulação maior tentando conter um desfecho desestabilizador e de consequências indesejáveis. Numa análise conclusiva, essa equipe vive ENTRE TAPAS & BEIJOS!

Em paralelo a toda essa turbulência no plano interno, a eleição Presidencial americana poderá repercutir negativamente aqui no Brasil, uma vez que da parte do nosso Presidente sempre houve uma exacerbada demonstração de solidariedade e simpatia ao Donald Trump, a ponto de se manifestar, indevidamente, sobre possíveis interferências externas no processo eleitoral dos EUA. Que nome se dá a isso? Envolver-se em briga de branco sem ser chamado...

Ora, é inegável a parceria política e econômica de longas datas entre os dois países, que tem vínculo direto com os interesses nacionais das partes, e não por simpatia pessoal a esse ou aquele Presidente. Agora, então, com a vitória de Joe Biden, o nosso Presidente vai ter de assumir uma postura de Estadista, visto que as relações diplomáticas devem ser preservadas na exata medida daquilo que é importante e necessário para o Estado brasileiro. Porque o Trump, já será coisa do passado...

Pelo tempo já transcorrido de quase dois anos de governo, um mínimo de amadurecimento e autocrítica o povo brasileiro já merece ver, poupando-o das querelas que nada constroem. Ou seja, elegeu-se um Presidente para administrar a Nação e não para andar provocando o disse-me-disse quando abre a boca.

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.