Boletim do Comitê do Nordeste afirma que risco de efeito bumerangue nos estados ainda não está descartado

O Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Nordeste afirmou que, mesmo com a redução de casos e mortes por Covid-19 em todos os estados da região, o risco de efeito bumerangue ainda não está descartado. A informação foi divulgada no Boletim 11 que tem como temas a voltas às aulas, vacinas e situação da pandemia em cada estado.

Com base em dados recentes, o Comitê constatou que a pandemia atingiu o pico em todos os estados do Nordeste. Embora seja um dado favorável por apontar decréscimo de infestação pelo coronavírus, o grupo afirma que há o perigo de governantes e, principalmente, da população considerarem que o risco epidêmico está sob controle e que já podem retornar às atividades como aulas, comércio e eventos, que possam resultar em aglomerações.

“A redução do número de contaminados e, principalmente, de óbitos provavelmente seja consequência do que a classe médica e hospitais tenham aprendido com o avanço da pandemia em termos de medidas preventivas, tratamentos hospitalares e disponibilidade de leitos em UTIs”, avaliam os membros do Comitê.

Os cientistas alertam para o risco do uso indevido da informação de redução de casos de infectados e mortes por parte de políticos, que querem se eleger ou se reeleger como vereadores ou prefeitos, desprezando as recomendações científicas e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

De acordo com o grupo, a redução do número de infectados pode ser, também, porque grande parte da população assintomática tenha contraído a Covid-19 sem ter percebido. Teoricamente, seria uma quase imunidade coletiva.

O Comitê informou que estima-se que apenas 20% das pessoas infectadas precisam de tratamento médico diferenciado, ou seja, aproximadamente 80% das pessoas não apresentam sintomas e sequer sabem que foram contaminadas.

O Rio Grande do Norte é o único estado do nordeste que apresenta decréscimo do risco epidêmico R(t). Algumas cidades de Alagoas, Pernambuco e Sergipe já apresentam níveis de risco epidêmico de moderado a alto, mas isso não é garantia de que não possam retornar a valores altos.

Atualmente, só Sergipe apresentou um R(t)=1,0 em uma de suas médias calculadas por diferentes metodologias.

O Comitê Científico informou que, em função da possibilidade de uma segunda onda de infecções, as autoridades devem ter muita responsabilidade no afrouxamento de medidas de isolamento, insistir na obrigatoriedade do uso de máscaras e evitar quaisquer situações de aglomerações de pessoas.

Como medida de segurança, a recomendação do Comitê é que seja considerado o maior R(t) calculado, em todas as situações.

Quanto ao número de leitos em UTIs para tratamento de Covid-19, que no início da pandemia era insuficiente, resultando em maior número de óbitos, segundo o Comitê, agora é subutilizado em todos os estados, mesmo com a desativação de vários hospitais emergenciais.

RETORNO AS AULAS: Retorno às aulas
De acordo com o grupo, o retorno seguro das crianças às aulas presenciais é um enorme desafio para gestores escolares, profissionais de saúde e governantes que devem utilizar as melhores evidências científicas para definir e formatar estratégias e ações de adequação do ambiente escolar para torná-lo o mais seguro possível.

"Não se trata apenas de tornar o ambiente escolar seguro do ponto de vista da infecção pelo novo coronavírus mas, também, em outros aspectos, como segurança alimentar, física e emocional de todo o corpo social da escola, estudantes, professores e funcionários”, disse o cientista e ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, que, juntamente com o neurocientista Miguel Nicolelis, coordena o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Nordeste.

Conforme o Comitê Científico, embora as evidências indiquem que crianças respondem por apenas 2% dos casos no Brasil e no mundo, a questão da reabertura das escolas para aulas presenciais é mais complexa.

“Há muitas evidências de que a opção de abrir escolas deve ser acompanhada de medidas de mitigação e prevenção da doença”, destaca o boletim.

O grupo coloca Israel como exemplo de país que não tomou medidas adequadas para evitar a transmissão com retorno às aulas e teve aumento nas taxas de contaminação. Já a Austrália, que reabriu com uso de máscaras, distanciamento social, higienização frequente e outras medidas de prevenção, foi colocada como país que "reduziu substancialmente os números de casos nas escolas".

No Nordeste, de acordo com o grupo científico, outros fatores devem ser considerados além da questão epidemiológica. A quarentena acentuou as já conhecidas desigualdades do sistema educacional do país.

“É urgente todos nós, governos, educadores, profissionais de saúde, sociedade e famílias pensarmos em planos estratégicos de enfrentamento dessa questão, baseados nas melhores evidências científicas para além apenas das questões do contágio, mas, sobretudo, na nossa realidade social. Estamos diante de um problema complexo, que não tem solução fácil ou simplista, diferente em cada região”, diz Nicolelis.

O Comitê do Nordeste ainda informou que a segurança alimentar, por exemplo, está sendo impactada pela ausência da merenda escolar, e pelo abuso de alimentos ultraprocessados em casa, que pode gerar até alterações de pesos nas crianças.

Há ainda a questão psicoemocional dos alunos que, na quarentena, estão submetidos a um regime de pressão e tensão psicológica com irritabilidade, tédio e ansiedade em função do isolamento social.

O boletim, que tem 42 páginas, traz a análise específica de cada um dos nove estados do nordeste, com dados, gráficos e tabelas sobre número de casos, taxa de risco epidêmico (R(t), número de hospitalizações, mortes e interiorização da pandemia.

G1 Bahia