Artigo – As eleições em dois tempos (II)

Fiquei sensibilizado com um dos comentários à crônica anterior, no qual um estimado leitor manifestou o seu desejo de que “gostaria de ler análises e notícias de um cenário nacional menos ruim e com foco só em fatos positivos”. Isso significa, no seu entendimento, de que há coisas boas acontecendo e que não são vistas, no que, em parte, concordo, e tenho reafirmado aqui, várias vezes. Respeitosamente, contudo, diria que fazer as coisas certas e corretas, é uma obrigação inerente ao cargo ocupado pelo gestor público, e que essas não podem acobertar as eventuais atitudes de insensatez, omissão e abuso no exercício do poder. Por isso não podemos silenciar...

E, pelo jeito, silêncio é coisa do passado, porque as ferramentas tecnológicas do momento nos animam, quando não a botar a boca no trombone, mandar ver nas redes sociais que atingem o mundo todo! E nisso “aqueles meninos” são especialistas!

Assim, diante da sugestão, optei por recorrer a um tema que já começa a interessar a muitos: as próximas eleições municipais. Mas, para mostrar ao leitor como as coisas não modificam muito ao longo do tempo, reedito, a seguir, partes do texto da minha crônica publicada há 4 anos (em 06/11/2016), com o mesmo título acima, permitindo-me, adicionar essa breve introdução:

“O resultado global das eleições de 2016 escreveu uma nova página na história recente do Brasil, pela importante lição que o eleitorado endereçou à classe política, principalmente a uma certa corrente que estava com um choro piegas e um discurso inconsistente invocando a tese do golpismo como bandeira, e que insistia em dizer que o povo daria a resposta nas urnas, a qual foi dada, realmente, de forma contundente e esmagadora.

[...] A verdade é que a votação foi sintomática da total desaprovação ao sistema político que dominava o país, corroído no cerne de sua estrutura ética e moral, o que se traduziu como um legítimo referendo popular ao impeachment votado pelo Congresso, e que jogou por terra a frágil e débil tese do “golpismo”.

[...] O povo pode até errar por algum tempo, mas não irá errar o tempo todo. Esse é o grande valor do sistema democrático, que faculta ao povo promover as transições mais inesperadas no domínio político dos governos em todas as esferas institucionais, dos Municípios, Estados e Governo Federal. Quando mais convencidos estão da eternização no poder, o sentimento popular de respeito e dignidade expressa toda a sua força e vontade, surpreendendo as expectativas iludidas de muitos políticos.

[...] Essa será a hora em que todas as suas decepções, frustrações e desencantos, estarão colocados diante de muitas análises e reflexões, pois em suas mãos estará o compromisso com a mudança de rumos do Município, ou mesmo a manutenção do modelo político e de gestão ora vigente.  Essa será a hora de dar um basta ao mercantilismo que se faz com o voto e ao populismo inconsequente que humilha a população mais carente”.

Em linhas gerais esse perfil permanece inalterado, mesmo após 4 anos. Todavia, é inquestionável que a crise Pandêmica atual abalou muitas estruturas, e inúmeras dúvidas irão perturbar a tranquilidade do processo eleitoral, mesmo com a nova data instituída pelo Tribunal Superior Eleitoral: 15 de novembro de 2020!

Que o fascínio das eleições e a paixão dos políticos por assumir o comando do Poder Municipal, não venham colocar em risco o patrimônio maior que é a vida de nossa gente, visto que as aglomerações antes, durante e depois do pleito, serão inevitáveis.

Em resumo, que saibamos separar o joio do trigo, o lero-lero por quem possa realmente trabalhar em favor da população. Enfim, que possamos, mais uma vez, ao menos tentar acertar para não padecer 4 longos anos pela frente. Essa é a grande oportunidade que nos dá a Democracia, como já enalteci acima.

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.