Artigo – Qual dos vírus é o pior?

O rico universo das redes sociais tem permitido tanto a proliferação de verdades e informações úteis, como Fakes News com todo tipo de maldades que desconstroem a uns ou favorecem aos interesses malévolos de outros. Nas últimas eleições, por exemplo, já foram utilizados todos os recursos nos dois sentidos, beneficiando ou prejudicando conforme a direção aplicada. Daí é que já existe uma CPI-Comissão Parlamentar de Inquérito constituída na Câmara de Deputados, justamente para investigar o mau uso dessa tecnologia.

Não tenho dúvidas de que será um eficiente instrumento a ser utilizado por todos os Partidos nas futuras eleições. E nesse sentido, quanto mais frouxa estiver a legislação, mais e mais essa guerra de baixarias será utilizada.

Foi exatamente nas redes sociais que circulou a foto da ilustração acima, usada numa das manifestações, a qual achei bastante sugestiva pela analogia que inspira diante de duas situações que merecem fazer parte do debate público, urgentemente. Na maioria dos hospitais pelo Brasil à fora, a classe médica e demais servidores da saúde são duramente sacrificados, diante da indisponibilidade de profissionais para atender a enorme demanda de pacientes com necessidade de urgência médica, ou seja 1 x 20, 30 ou 40! Inversamente, os nossos prezados parlamentares podem contratar até 25 Assessores cada um, com salários variados até R$15.698,00, o que representa para a Câmara um custo mensal de R$ 54,0 milhões! E a Saúde? Ao deus dará...

Há um quadro de dicotomia entre a intensidade da tragédia viral que se alastra no país e o limitado grau de preocupação e envolvimento de certas autoridades no esforço de combater o vírus. A indiferença tem sido gritante, e no noticiário já virou rotina aquele breve espaço reservado à estatística dos números de infectados e mortos no país pelo COVID-19! No resto do tempo, as televisões valorizam os amplos conflitos entre os três Poderes da República, o processo de desconstrução da Lava Jato, o debate na Câmara sobre o Fake News, a discussão sobre possíveis candidatos para a Presidência em 2022, etc. Pelo tipo de debate se conhece quais são as prioridades nacionais! Impressionante, mas é a nossa mais pura realidade.

Em paralelo a tudo isso o Presidente da República após superar a infecção sofrida pelo Coronavírus, logo na primeira agenda oficial para uma inauguração em Campo Alegre de Lourdes-BA, ao descer do avião em S. Raimundo Nonato-PI,  montou num cavalo, retirou a sua máscara e foi para o meio da multidão, sorridente e empolgado, vibrando no ar o seu chapéu de couro, num evidente clima de campanha eleitoral antecipada e permanente, e sem qualquer prudência perante o povo. Não é à atoa que a primeira Dama e mais oito Ministros do seu Governo já testaram positivo, também. 

Diante de todo o contexto de uma crise sanitária dessa dimensão, com impactos perturbadores sobre todos os demais segmentos econômicos garantidores da vida do cidadão, e do sustento institucional do Estado brasileiro, causa profundo desalento ver a indiferença e a falta de solidariedade com o sentimento de dor de quantos brasileiros estão sendo afetados. Chega a ser inacreditável ver o Presidente, numa coletiva, olhar na direção dos seus Assessores e perguntar com ar de indiferença: “Não tem ninguém morrendo por falta de atendimento médico, tem?”. Certamente os bajuladores dão o sinal de concordância...

Os agravantes são desafiadores e repercutem de forma dramática na vida de cada família, de cada empresário e de cada trabalhador - desempregado ou não -, induzindo-os a se reinventarem no processo de recuperação. 

A realidade brutal é que ao lado do Vírus Invisível (COVID-19) existem outros Vírus Visíveis e velhos conhecidos de todos nós, para os quais não há a necessidade da vacina, mas, sim, a eficaz arma do VOTO CONSCIENTE. E, assim, vamos acreditar que pelo menos um desses dois vírus será debelado das nossas vidas, pelo próprio povo!

Autor: Adm. Agenor Santos, Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador - BA.