Artigo – Onde a Suécia não deve ser imitada

(A “arriscada” aposta da Suécia para enfrentar o Coronavírus)

Ainda que as eleições de outubro próximo contemplem apenas os cargos de Prefeitos, Vice-Prefeitos e Vereadores, o que causa menor impacto do que se fossem as eleições gerais, não sei se realmente não seria mais prudente alongar esse prazo por uns seis meses adiante, face as consequências decorrentes dessa intensa crise socioeconômica, política e de saúde pública originada pela tragédia do COVID-19.

Visto que o assunto já começa a ser ventilado no Congresso Nacional, mas com foco no adiamento por insignificantes 30 ou 60 dias para a realização do pleito, questiono qual o sentido que faz adiar por tão curto prazo, uma vez que os renomados analistas econômicos fazem duras previsões quanto às graves dificuldades para a recuperação da economia no médio e longo prazo?

O povo brasileiro vive um momento de intensa perplexidade. Enquanto o resto do mundo já entra num processo de recomeço pós Pandemia, restabelecendo as atividades econômicas e engatinhando os primeiros passos para um novo aprendizado de vida, o nosso país está em estado de progressão do vírus e atravessa uma fase de constrangedora balbúrdia generalizada, a saber: falta de sintonia entre Presidente da República e Governadores, e vice-versa, em que ressalta a inoportuna disputa política como clara prioridade; coletivas diárias inúteis e revestidas de visível descontrole verbal; batalha judicial contra Fake News; e visível retorno da prática do “toma lá, dá cá” entre Executivo e Legislativo, leia-se Centrão. E desse aí, nem precisa falar seu sinônimo ou mesmo traduzir o seu significado. Melhor mesmo é deixar quieto, como dizem por aí.

Quando o óbvio seria a união de energias voltadas para a superação dos grandes obstáculos que atormentam a Nação, mesmo nos Estados de maior presença do vírus, a grande maioria dos nossos políticos está preocupada com a eleição municipal, eleição dos Presidentes da Câmara e do Senado, gestão duvidosa dos recursos para conclusão de Hospitais de Campanha, superfaturamento criminoso na compra de equipamentos hospitalares, etc. Ou seja, dizer aqui que há falta de vergonha é pouco, mesmo porque é como não dizer nada para esses pilantras insaciáveis.

E como se não bastasse tudo isso, o Presidente da República, com visível ar de indiferença e desdém com a dura realidade, transformou a Praça dos Três Poderes em passarela eleitoral, onde desfila sorridente todas as manhãs de domingo para receber o aplauso de apoiadores cujas faixas pregam a violência contra a democracia e o desrespeito às suas instituições. A sua presença esbanja um sintomático populismo eleitoreiro, ao desfilar sobre caminhonetes ou montado em cavalo da polícia. Quem disse que temos crise no Brasil? Algo do tipo só mesmo admissível em republiquetas, mas numa Nação de mais de duzentos milhões de habitantes, o ridículo supera todos os limites.

Não obstante os enormes contrastes entre Brasil e Suécia, o Presidente, por duas vezes, citou a Suécia como exemplo a ser seguido, por não ter adotado o isolamento social. Nesta última semana, o médico Anders Tegnell, que foi o responsável pela estratégia da Suécia de não adotar o “lockdown”, reconheceu que o país enfrenta problemas no combate ao vírus. “Se encontrássemos a mesma doença, com exatamente o que sabemos hoje, acho que buscaríamos o meio do caminho entre o que a Suécia fez e o que o resto do mundo fez”, declarou. (Folha de Notícias). Em termos proporcionais à sua população, seria hoje o mais alto índice de mortes na Europa, e o Brasil, se a imitasse, já teria superado 100.000 mortes a algum tempo, segundo os analistas! Ainda bem que o seu desejo não foi aplicado!

Parece um pesadelo imaginar que o Brasil caminha a passos largos para o posto de primeiro lugar nessa tragédia, uma vez que os números só aumentam. Já superamos os 600.000 infectados e 36.000 mortes, agravados pela falta de estrutura hospitalar emergencial e insuficiência de testes na maioria dos Estados brasileiros! Mas, só não pode faltar é aquele circo onde ninguém mais sabe quem é o palhaço.

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.