Combate a crimes de pedofilia passa também por debates com a sociedade

No dia em que foi deflagrada uma das maiores operações policiais contra a pedofilia no Brasil, a delegada especializada em combate a crimes contra crianças e adolescentes Valéria Martirena defendeu que o debate sobre o tema, apesar de ser tabu, é fundamental para que a sociedade tenha mais conhecimento sobre esse tipo de delito.

Martirena chefiou a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente do Distrito Federal, entre 2011 e 2015. Dessa experiência, surgiu o interesse em relatar os casos, como forma de alerta e prevenção a abusos sexuais e pedofilia, o que foi feito por meio do livro Pedofilia – Fatos Baseados na Vida Real (Editora Movimento, 2016).

O livro começa com uma indagação: O que você sente quando ouve falar de pedofilia? “Esta pergunta chama as pessoas a uma reflexão sobre o por quê de a violência ser algo que as pessoas evitam falar”, disse a delegada. Segundo ela, essa dificuldade é identificada também entre policiais.

“Nem todo policial se sente capacitado para fazer esse trabalho, devido ao estresse emocional, que pode resultar em depressão”, disse a delegada, após participar do programa Revista Brasil, da Rádio Nacional de Brasília, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ancorado pelo jornalista Valter Lima.

Na maior parte dos casos de pedofilia, o criminoso é uma pessoa da confiança dos pais, disse a delegada. “As pessoas têm a falsa impressão de que as crianças estão protegidas por estarem com conhecidos. Só que o que vemos é o oposto disso. A grande maioria dos casos é praticado por pessoas conhecidas e familiares”.

De acordo com a delegada, a própria criança pode dar indicações de que pode estar sendo vítima desse tipo de abuso. “É comum a ocorrência de temor noturno, agressividade e ou timidez, por parte da criança abusada. Outra forma de se identificar isso [o abuso] é por meio de desenhos feitos durante as aulas na escola e de outras formas de comunicação não verbais".

Ela alertou que, mesmo em se tratando apenas de suspeitas, é fundamental que a denúncia seja feita à polícia ou por meio do Disque 100 - número dedicado nacionalmente para denúncias via ligações telefônicas. “Mesmo em casos apenas de suspeitas, é importante que a denúncia seja feita. Esse é um assunto que precisa ser debatido pela sociedade. A discussão é necessária para ressignificar essa violência e melhor atender as vítimas.”

Segundo a delegada, há protocolos policiais que possibilitam identificar casos de falsa memória, por meio do qual a fantasia da criança pode ser confundida com abuso sexual ou pedofilia. “Em geral esses casos de falsa memória ocorrem quando há situação de conflito no ambiente familiar como, por exemplo, durante processos de separação”.

Agencia Brasil