Educação contextualizada é alternativa para aproximar escola e comunidade
Para o Doutor em Educação e professor da Universidade do Estado da Bahia, Edmerson dos Santos Reis, os docentes devem se desprender das atividades dos livros didáticos e realizar estudos de meio, como enquetes com a comunidade e fazer o tratamento das informações obtidas, juntamente com os estudantes, avaliando o objeto de estudo - a comunidade - para que tanto o docente como o aluno reconheçam o meio em que vivem.
Após estudos e avaliações, é possível desenvolver práticas que ajudem a amenizar os problemas encontrados na região. “Através de enquetes sobre as condições de vida da comunidade de Massaroca foi elaborado um projeto com o apoio de uma ONG americana, a Pathfinder, onde foi possível trabalhar elementos referentes à saúde da mulher”, relata Reis.
Esse novo paradigma de ensino está centrado na Educação Contextualizada, que prioriza as questões da vida dos sujeitos, as problemáticas e as potencialidades do contexto local. É um modelo educacional que defende um currículo escolar no qual o estudante se reconheça e procure compreender o seu próprio ambiente. “Mas como proporcionar esse conhecimento se muitas vezes o professor que está ali para informar, não conhece a região em que ensina? Às vezes, o educador sabe apenas o caminho que o leva até a sala de aula, mas não conhece a realidade em que seus alunos vivem”, enfatiza o pesquisador.
A Escola Rural de Massaroca (ERUM) é uma das poucas escolas da rede municipal de Juazeiro, onde os professores trabalham a contextualização da educação há mais de dez anos, utilizando métodos como observação, compreensão e transformação da realidade. Alguns projetos foram introduzidos, contribuindo para a qualidade de vida do povo da região, como projetos de organização da juventude, saúde da mulher, organização comunitária, criação de galinhas, horta comunitária, manejo do rebanho e manejo da caatinga.
A professora Maria Letícia que leciona há dois anos no projeto “Mais Educação” na Escola Paulo VI, situada em Juazeiro, relata que busca ensinar a seus alunos de maneira diferenciada. Mas com a falta de incentivo, junto com a formação que os professores recebem, afirma que não é possível trazer para sala de aula a realidade do semiárido. A educadora ressalta ainda que muitos professores não conhecem exatamente o que é a Educação Contextualizada, que se fundamenta na desconstrução do currículo universalista.
O ensino escolar não contextualizado traz sérios prejuízos aos futuros adultos que não conseguem fazer o trabalho de retextualização, ou seja, não conseguem relacionar os conteúdos didáticos com a realidade em que vivem. Os textos não traduzem a sua realidade de mundo. Muitas vezes, isso é motivo da evasão escolar, pois os alunos não se sentem atraídos pelos assuntos discutidos no ambiente educacional, como esclarece Edmerson Reis.
Modelos para um currículo escolar que respeite a realidade regional podem transformam o ensino no semiárido, seja por meio da inserção dos educadores na comunidade e o retorno à escola para uma problematização sistematizada da "realidade", o que pode trazer intervenções concretas, como esclarece Josemar Martins. São ações como essas que podem fortalecer o conhecimento sobre as localidades e aproximar alunos e docentes da comunidade.
Por: Lorena Santiago